quinta-feira, 22 de maio de 2014

IMPACTOS DA SECA SOBRE A PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO BREJO DE ALTITUDE: O CASO DA COMUNIDADE DO AMARO DO MUNICÍPIO DO BREJO DA MADRE DE DEUS - PE

IMPACTOS DA SECA  SOBRE A PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO BREJO DE ALTITUDE: O CASO DA COMUNIDADE DO AMARO DO MUNICÍPIO DO BREJO DA MADRE DE DEUS - PE

Monografia apresentada ao Departamento de Pós Graduação em Ensino da Geografia da FABEJA, como parte do programa de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. Pesquisador : Henágio José da Silva. Orientador: Prof.Dr.Natalicio de Melo Rodrigues..
*Algumas figuras foram modificadas ou retiradas devidos as limitações tecnológicas do Blog .

RESUMO

Os Brejos de Altitude são disjunções de floresta atlântica proporcionada pelos acidentes orográficos de tais áreas com elevações superiores a 600 m altitude em relação ao nível do mar que possuem características atípicas das áreas em seu contorno, essas áreas apresentam condições pluviométricas distinta a sua adjacência, com índices que passam dos 1.000 m anuais e condições de temperatura amena pela sua elevação e pela presença de uma vegetação arbórea verde durante todo o ano, solos profundos pelo grande grau de intemperismo químico. Esses espaços apresentam boa capacidade hídrica com várias nascentes que dão origem a riachos e rios muitas vezes perenes que dão suporte a agricultura local e ao abastecimento hídrico da cidade. No passado essas áreas apresentavam enorme significância para seu entorno pela produção agrícola de vegetais e frutas, pois forneciam essas mercadorias nos dias de feiras.  A seca de 2012 causou impacto na produção agrícola, afetando as culturas de Morango, Banana e Olerícolas (Alface, Coentro, Cebolinha, Cenoura, Beterraba, Couve, Chuchu, etc.) com perdas acima de 50% da área plantada e diminuição da produtividade da culturas que resistiram a seca. Com a falta de armazenamento d'água na região, uma diminuição das precipitações já inicia uma dificuldade para irrigação das culturas citadas que são muito exigente em água

Palavras chave: Brejo de Altitude, solo, seca, agricultura, precipitação.


SUMMARY

High altitude Atlantic rainforests are oasis provided by low-range- mountains with altitudes higher than 600 m above sea level and characteristics that differ from the surrounding semiarid areas. These areas have annual rainfalls of more than 1,000 m, cooler temperatures due to the altitude, the presence of rainforest vegetation that remain green throughout the year, and deep soils with a large degree of chemical weathering. They have a good water supply with several springs that give rise to streams and rivers, often perennial, that support local agriculture and the town’s water supply. These areas are important economically to the dry surrounding region, supplying vegetables and fruits to the local weekly farmers’ markets. The 2012 drought impacted agricultural production, affecting strawberry, banana and vegetable crops (lettuce, coriander, green onions, carrots, beets, cabbage, chayote, etc.) with losses above 50 % of the planted areas and decreased productivity of crops that were able to survive the drought. The lack of water storage and reduced rainfalls reduced the water supply for irrigation of the above mentioned crops that are very demanding in water use.

Key words: High Altitude Atlantic rainforest, soil, drought, agriculture,

 1 INTRODUÇÃO

 A degradação dos solos pode ser considerada um dos maiores problemas ambientais dos dias atuais, isso porque ela afeta não só as terras agrícolas, mas também as áreas de vegetação natural, e o Brasil não está livre desse desastre, inúmeras fontes de literatura e estudos de casos têm destacado uma grande área do nosso território como sendo de solo bastante degradado(Andrade, 1999).
No Brasil, intimamente ligada à agricultura, resultam da combinação entre o clima implacável, um rápido desenvolvimento econômico e solos extremamente frágeis. São inúmeros os fatores causadores da degradação dos solos, podendo ser fatores causadores diretos ou simplesmente fatores facilitadores para que ocorra a degradação, também chamado de fatores aceleradores.
Em outro caso, a ação de atores naturais sobre o solo causando a erosão é um fator direto, enquanto que um fator facilitador a essa ação pode ser antrópico. Os de ordem antrópicas designados de facilitadores são em geral os ligados aos desmatamentos, pastoreio, uso excessivo de vegetação, cortes em taludes, remoção de cobertura vegetal. Esses podem ser de ordem ou uso direto, a saber: uso de máquinas, condução de gado, encurtamento de pousio, entrada excessiva de água, uso excessivo de produtos químicos ou estrumes, deposição de resíduos, entre outros problemas de ordem ambiental. Quanto ao de ordem natural, destacam-se a chuvas torrenciais, ventos e alagamentos, entre outros (Andrade, 1999). 
Vale salientar que essa área abrejada é de suma importância, não só pela potencialidade agrária, mais também por ser considerada área de biodiversidade extremamente alta. Recentemente foi criada uma RPPN no local. Embora os remanescentes florestais estejam bastante fragmentados, a sua importância biológica é incontestável: a bioflora é rica e possui elementos vulneráveis, ratificando a necessidade de se priorizar a sua conservação e uso sustentável dos recursos naturais existentes.





2 REVISÃO DE LITERATURA


2.1 Paisagens de exceção, brejos e sua tipologia

         As paisagens de exceção constituem fatos isolados, de diferentes aspectos físicos e ecológicos inseridos no corpo geral das paisagens habituais. Mais que isso são referências para o homem desde a pré-história. Enfatiza-se que as paisagens de exceção serviram de referência para os nossos antepassados, e por isso devem ser bem conservados e protegidos. Tendo uma localização, quase sempre, muito distanciada entre si, os sítios de paisagens bizarras em um país de tamanho gigante raramente podem ser conhecidos ou estudados em sua totalidade (AB’SABER, p. 149, 2003).
         Na linguagem simbólica utilizada nas ciências biogeográficas sucedem-se termos para designar “ilhas” de vegetação aparentemente anômalas, identificadas nos corredores de grandes domínios morfoclimáticos e fitogeográficos (AB’SABER, p. 145, 2003). O mais singelo desses termos é certamente a expressão relicto, aplicada para designar qualquer espécie vegetal encontrada em uma localidade específica e circundada por vários trechos de outro ecossistema.
            Um outro termo usado para designar manchas de ecossistemas típicos de outras províncias, porém, encravado no interior de um domínio de natureza totalmente diferente , é utilizada a expressão “enclave” fitogeográfico. Conforme Ab’ Saber ao explicar a razão de serem esses “enclaves” ecossistêmicos foi necessário toda trajetória de pesquisa que tornou possível a Teoria dos redutos e refúgios. Na realidade, os “enclaves” de ecossistemas em espaço de médio porte refletem a dinâmica das mudanças climáticas e paleoecológicas do período quaternário (AB’SABER, p. 145, 2003).
Lins, 1989 conceitua como brejo “Subespaços úmidos que apresentam formas diversificadas de uso que as diferenciam das dominantes, no interior das quais se encontram situados”. Como sub - unidades regionais, que são, essas manchas úmidas reclamam uma caracterização geográfica sistemática ( ANDRADE, 1963).
         Os espaços subúmidos se destacam dos espaços semiáridos, dominantes na região, por suas condições agroecológicas excepcionais refletidas nos tipos e desempenho dos sistemas agrícolas em que sobressaem as lavouras e o manejo de baixo e ou médio nível tecnológico. Existem diferentes tipologias de brejos: Brejo de Várzea, Brejo de Fundo úmido e ou Vale e por fim Brejo de Altitude ou Exposição, que apresentam princípios fitoecológicos similares, mas com características próprias (LINS, 1989).
         Muitos desses espaços de exceção estão concentrados na faixa de rebordo do Planalto da Borborema. Eles ocupam posições inferiores do relevo e alternam com os Brejos de Altitude e estão caracterizados por condições climáticas com as mais elevadas cotas pluviométricas e pouca ou quase nenhuma deficiência hídrica, por exemplo o Brejo do Mimoso. Nesses ambientes a hidrografia é permanente e vegetação natural hidrófila, nesses campos de várzea, seus solos são moderadamente ou poucos desenvolvidos, profundos, argilosos, imperfeitamente drenados, ácidos, comumente saturados com água, durante boa parte do ano, sujeito a inundações com baixa fertilidade, denominados entre eles o hidromórficos e os aluviais distróficos (LINS, p 99, 1989).
Essa acuidade, permitiu desenvolvimento de uma série de estudos, que perpassa por diversos autores brasileiros que deram grande contribuição para explicação e origem, desenvolvimento e tipologia dos brejos, entre os quais destacam-se: Ab’Saber (USP), Raquel de Caldas - UFPE, Vasconcelos Sobrinho (UFPE), Gilberto Osório de Andrade (UFPE), só para citar alguns e a relevância desse tipo de pesquisa.


2.1.1 Brejo de Fundo úmido e ou Vale

         São tipos agroecológicos de espaços ocorrentes entre algumas áreas serranas agrestinas, como a Serra do Mimoso e outras serras, constituídos por relevo pouco movimentado ou plano, com altimetria entre 500 a 700 metros, clima sub-úmido, com pluviosidade em torno de 700 a 900 mm anuais, com pouca ou moderada deficiência de água, hidrografia permanente e ou semipermanente e ou temporária, vegetação natural de floresta caducifólia / caatinga hipoxerófila, atualmente devastada em sua quase totalidade, e solos pouco desenvolvido, moderadamente profundo, textura média, boa disponibilidade de água, ácido a pouco ácido e com baixa a média fertilidade, onde dominam os aluviais distróficos e eutróficos (LINS, p 99, 1989).
            Ampla diversificação das formas de uso é constatada nessas áreas, onde os sistemas agrícolas envolvem culturas permanentes, como as de frutas diversas, de banana, de citros, de coco, e de pinha, assim como culturas temporárias, que incluem as hortaliças, de flores, de mandioca e de milho, além de pastagem de capineiras. Deficiência temporária de água e em alguns casos, a deficiência de fertilidade são seus principais entraves ao uso agrícola e em face disso esses espaços são dotados de regular e ou restrita aptidão para o uso com culturas. Os problemas acima referidos são superados através das práticas como a irrigação e as adubações orgânica e inorgânica.


2.1.2 Brejo de Altitude ou exposição

         Os brejos de altitude constituem zonas fisiográficas de maior importância para o suporte econômico das áreas semiáridas do Nordeste (SOBRINHO,1970).
Segundo Paulo Kageyama (2004) “os brejos de altitude nordestinos são enclaves da Mata Atlântica, formando ilhas de floresta úmida em plena região semiárida cercadas por vegetação de caatinga, tendo uma condição climática bastante atípica com relação à umidade, temperatura e vegetação e com pouco conhecimento sobre sua vegetação e ecologia”.
A predominância do extrativismo de madeira e de lenha como principal fonte de energia, tanto para as indústrias de gesso como para a população, coloca em risco esse bioma ainda tão pouco conhecido. Por outro lado, este bioma é rico em conhecimento popular tradicional, tanto sobre plantas medicinais fitoterápicas como sobre a cultura alimentar, e pode apontar alternativas para a conservação e o uso sustentável de sua biodiversidade.
Lima (1960) o brejo de Altitude constitui em Pernambuco disjunções de floresta tropical perenifólia, dentro da zona Caatinga, e por sua condições geoambientais localizam-se, via de regra, nos níveis superiores das serras, quer graníticas, quer cretácea, acima de cotas nunca inferiores aos 500 metros, e progressivamente maiores, no sentido geral SE-NW, até os 1.100 metros. Por sua vez, o Geógrafo Gilberto Osório de Andrade define como brejo de altitude “Subunidade regionais, que jamais ultrapassam 1020 m sobre o nível do mar e geralmente tem menos de 600 m de relevo local(...) Há que levar em conta solidariamente os suprimentos hídricos atmosférico que nelas acarretam precipitação responsáveis pelas manchas úmidas. Ora esses suprimentos são de origem remota. O ar límpido, de baixa umidade relativa, dos sertões que as circundam não lhe proporcionam valores higroscópicos susceptíveis de condensação  a tão modesta altitude. 
Trata-se então de verdadeiros complexos circunstanciais solidária, cuja resultante se exprime em termos de exposição. Exposição ao fluxo de massas advectivas de ar úmido, ou à dilatação de massas conectivas nevoentas. Em suma, de posição geográfica em relação as regiões de origem dessas massas e de postura em função da direção geral em que elas anualmente se propagam” Sobrinho, 1970 apud (Duque, p 23, 1964);Duque( 1964) afirma que Brejo de Altitude “são as montanhas com altitudes acima de 600 metros com pluviosidade e umidade mais regulares, com ou sem fontes d’água, solo profundo de argila ou sílica, com revestimento de floresta ou de capoeiras de aspecto mais higrófilas que as Caatinga.” ( ETENE, 1964 p111).
         Lins (1989) afirma que brejo de altitude são espaços relevo com gradientes, suaves a fortes com altitudes superiores a 600 metros acima do nível do mar, raramente ultrapassando 1000 metros, clima úmido e ou sub-úmido, com cotas pluviométricas entre 900 e 1.300 mm anuais e pouca deficiência hídrica, hidrografia permanente e ou semipermanente. Sua vegetação natural primitiva de floresta subcaducifólia e ou subperenifólia em sua maioria erradicada, foi substituída por formações secundárias e seus solos são muitos desenvolvidos, muito profundos, argiloso, com alto teor de água disponível, pouco ácido a ácido, com média a baixa fertilidade, onde dominam os podzólicos vermelho – amarelos eutrófico e distrófico com ou sem A proeminente e os latossolos vermelho – amarelo húmicos e os amarelos, ambos distróficos.
            Lavouras permanentes como as de banana, das frutas, de café, de citros secundadas por lavouras temporárias como as de hortaliças, de flores, de mandioca, de milho e de feijão, dominam nos agrossistemas e comumente são conduzidos em manejo de baixo e ou médio nível tecnológico.
            As principais limitações das condições agrícolas ao uso com a agricultura são a suscetibilidade, a erosão, a obstáculos e à mecanização, devido a natureza do solo e ao gradiente do relevo, a deficiência de água durante os meses secos e a deficiência de fertilidade, em alguns solos. Por essa razão, num manejo de médio nível tecnológico e na dependência da classe do solo e de sua fase, assim como do gradiente do terreno são espaços que apresentam um potencial agroclimático de bom a restrito para uso agrícola (LINS, p 97, 1989).
            Assim Vasconcelos Sobrinho define o brejo de altitude como “(...) um acidente orográfico que por sua elevação acentuada, incidência de correntes atmosféricas úmidas e natureza do solo, condiciona uma vegetação predominantemente mais higrófila que as áreas circunvizinhas em meio as que se encontram situados”.


2.2 A Teoria dos redutos como modelo teórico para explicação da origem dos brejos

Em uma visualização dinâmica e interdisciplinária dos fatos paleoclimáticos e paleocológicos, pode-se sintetizar os acontecimentos do seguinte modo: no período de Wurm IV – wiscosim superior, durante a última glaciação pleistocênica, quando se formaram fantásticas geleiras nos pólos Sul e Norte e em cordilheiras e altas montanhas, o nível do mar desceu até 100 metros menos do que é seu nível atual. As temperaturas médias em todo planeta baixaram de 3º a 4ºC, rebaixando o nível de calor das terras baixas intertropicais e tornando bem mais frio o ambiente das regiões subtropicais e temperada e muito fria a temperatura das montanhas a altiplanos existentes à altura dos trópicos (Itatiaia, por exemplo, entre nós) (AB’SABER, p. 52, 2003).
O grande acontecimento, porém, foram os deslocamento das correntes marítimas frias ao longo da face leste dos continentes, sujeitos, até então, apenas aos efeitos de correntes quentes, propiciadoras de umidade. As correntes frias projetando-se para o norte até a altura da Bahia, no caso brasileiro – contribuíram para barrar a entrada de umidade atlântica, devido a uma atomização das massas de ar úmido. Estando o mar em nível mais baixo, as correntes frias (Malvinas/Falklands) ficavam mais distantes da costa antiga, contribuindo indiretamente diretamente para expansão dos climas semiáridos ao longo do litoral recuado e na retroterra de algumas regiões situadas em depressões de escarpa e serranias, ou em forte transição da faixa sub-litorânia na direção dos sertões da época (AB’SABER, p. 53, 2003).
Foram processos que se fizeram atuar, progressivamente, por alguns milhares de anos, provavelmente 23.000 anos A.P até 12.700 anos A.P. (Antes do Presente). Nesse intervalo de tempo os “corredores” da semiaridez em processo, feneceram as coberturas florestais anteriores, processou-se uma generalizada dessoalagem dos horizontes superficiais dos solos preexistentes e um extraordinário avanço das caatingas por muitos setores dos planaltos e terras baixas interiores do Brasil. Concomitantemente com a progressão da semiaridez, houve recuo e fragmentação dos espaços anteriormente florestados permanecendo matas biodiversas apenas na “ilhas” de umidade testada de algumas escarpas voltadas para os ventos úmidos de exceção, tendo as florestas anteriores ao avanço da semiaridez permanecido em redutos, sub a forma de ecossistema minoritário ao seu entorno (AB’SABER, p. 53, 2003).

2.3 Características da vegetação dos Brejos

         A floresta Atlântica brasileira é uma das 25 prioridades mundiais para a conservação. Calcula-se que essa floresta abrigue 20.000 espécies de plantas vasculares, sendo 8.000 endêmicas (MYERS ET AL. 2000). Além do alto grau de endemismo observado em alguns grupos vegetais (veja Mori et al. 1981, Peixoto & Gentry 1990, Thomas et al. 1998), a floresta Atlântica apresenta elevada riqueza e diversidade de espécies (Begon et al. 1996) que, em alguns locais, são superiores às observadas em trechos de floresta Amazônica (Silva & Leitão Filho 1982; Brown & Brown 1992).
            Com base na distribuição dos tipos de vegetação, estima-se que a floresta Atlântica nordestina cobria uma área contínua de floresta com 76.938 km², ou 6,4%da extensão da floresta Atlântica brasileira, distribuídas em cinco tipos vegetacionais: 1. Áreas de tensão ecológica 43,8%; 2.floresta estacional semidecidual 22,9%;3.floresta ombrófila aberta 20,5%; 4.floresta ombrófila densa 7,9%; e5.formações pioneiras 6,1%.Nessa tipologia existem ainda as florestas de terras baixas (< 100 m de altitude), submontanas (100-600 m) e montanas(> 600 m) (IBGE 1985).

Parte da floresta Atlântica nordestina é composta pelos brejos de altitude: “ilhas” de floresta úmida estabelecidas na região semiárida, sendo cercadas por uma vegetação de caatinga (ANDRADE & LIMA, 1982). Os brejos são “áreas de exceção” dentro do domínio do nordeste semiárido (LINS, 1989). A existência dessas ilhas de floresta em uma região onde a precipitação média anual varia entre 240 - 900 mm (IBGE 1985; Lima, 1989) está associada à ocorrência de planaltos e chapadas entre 500 - 1.100 m altitude (e.g., Borborema, Chapada do Araripe, Chapada de Ibiapaba), onde as chuvas orográficas garantem níveis de precipitação superiores a 1.200 mm/ano (ANDRADE & LIMA, 1960; 1961) (Figuras 2 e 3).

 2.4 Localização dos Brejos de Altitude
                                                                           
De acordo com Vasconcelos Sobrinho (1971), existem 43 brejos na floresta Atlântica nordestina, distribuídos nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco (Figura 4), cobrindo uma área de pelo menos 18.589 km2 (quadro 01). Somente Pernambuco e Paraíba possuem 31 brejos, distribuídos em 28 municípios do agreste e sertão (quadro 02). Assim, pelo menos 1/4 da área de distribuição original da floresta Atlântica nordestina é representada pelos brejos de altitude (Figura03).


Quadro 01: Localização dos Brejos de Altitude nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Na primeira coluna identificam-se as unidades estaduais da federação que contém áreas de Brejo de Altitude, na segunda coluna apresenta a quantidade (em número) de brejo de altitude, na terceira coluna está demonstrado área ocupada pela vegetação original de Mata Atlântica nos Brejos de Altitude, na última coluna o percentual dos estados em relação a área florestada dos Brejos de Altitude e por fim a última linha da tabela consta o total das colunas citadas. Fonte: Sobrinho,1971.

Estados
N° de Brejos
Área Floresta em Km²
%
Ceará
11
6.596,5
35,48
Rio Grande do Norte
5
1.147,5
6,18
Paraíba
8
6.760
36,37
Pernambuco
23
4.850
21,97
Total
47
18.589
100


Quadro 02. Na tabela consta a relação dos principais brejos de altitude de ocorrência nos estados de Pernambuco e Paraíba, onde é apresentado o nome do brejo na primeira coluna, na segunda os estados pertencentes, no terceiro a cidade em que o brejo está inserido e por último da coordenadas (latitude e longitude). Destacando-se a ausência do brejo de altitude da cidade de Brejo da Madre de Deus, que provavelmente está inserido no brejo de Serra dos Ventos no município de Belo Jardim, que faz fronteira com o brejo de altitude do município de Brejo da Madre de Deus. Fonte: Sobrinho, 1970.

Localização dos brejos de altitude de Pernambuco e Paraíba
Brejos                          
Estado
Município
Localização
Bananeiras
Paraíba
Bananeiras
 6° 45’, 35° 37’
Areia                          

Paraíba
Areia
6° 57’, 35° 40’
Alagoa Nova             

Paraíba
Alagoa Nova
7° 04’, 35° 45’
Araruna                      

Paraíba
Araruna
6° 33’, 35° 44’
Umbuzeiro

Paraíba
Umbuzeiro
7° 40’, 35° 38’
Teixeira

Paraíba
Teixeira
7° 13’, 37° 15’
Princesa
Paraíba
Princesa Isabel
7° 44’, 37° 59’
Bonito

Paraíba
Bonito
8° 28’, 35° 43’
Triunfo

Pernambuco
Triunfo
7° 49’, 38° 6’
Tacaratu

Pernambuco
Tacaratu
9° 05’, 38° 7’
Mimoso

Pernambuco
Arcoverde
8° 25’, 37° 2’
Varas

Pernambuco
Arcoverde
8° 25’, 37° 2’
Taquaritinga

Pernambuco
Taquaritinga
7° 54’, 36° 1’
Brejo dos Cavalos

Pernambuco
Caruaru
8° 16’, 35° 58’
Gravatá

Pernambuco
Gravatá
8° 12’, 35° 32’
Bezerros

Pernambuco
Bezerros
8° 19’, 36° 25’
São Miguel

Pernambuco
São Miguel
7° 20’, 38° 39’
Camocim de São Felix

Pernambuco
Camocim de São Félix
8° 21’, 35° 45’
Agrestina

Pernambuco
Agrestina
8° 27’, 35° 56’
Catimbau

Pernambuco
Buíque
8° 37’, 37° 8’
São José

Pernambuco
Moxotó
8° 43’, 37° 31’
Serra Negra

Pernambuco
Bezerros
8° 13’, 35° 46’
Serra Negra

Pernambuco
Floresta
8° 36’, 38° 34’
Serra do Olho d’Água

Pernambuco
Belo Jardim
8° 19’, 36° 25’
Serra do Vento

Pernambuco
Belo Jardim
8° 19’, 36° 25’
Serra do Genipapo

Pernambuco
Sanharó
8° 21’, 36° 32’
Serra de Ororubá

Pernambuco
Pesqueira
8° 19’, 36° 46’
Poções

Pernambuco
Poção
8º11’, 36º42’
Serra do Comunati

Pernambuco
Águas Belas
9° 5’, 37° 7’
Serra do Arapuã

Pernambuco
Floresta
8° 36’, 38° 34’
Serra do Araripe

Pernambuco
Exu
7° 30’, 39° 43’



Aspectos naturais da paisagem abrejada no Municpio de brejo da Madre de Deus-PE. Observa-se algumas áreas com exposição de rochas cristalinas evidenciado a influência do do aspectos rochosos do Planalto da Borborema. As vertentes a sotavento apresenta as faces mais rochosas, ao contrário da vertentes a barlavento com cobertura vegetal significativa evidenciando  a ação do intemperismo químico sobre as massas rochosas.(Natalicio de Melo, 2014)

2.5 Importância Socioeconômica dos Brejos de Altitude

As condições privilegiadas dos brejos de altitude têm atraído pecuaristas e agricultores, que, através da criação de gado e do desenvolvimento de lavouras permanentes, como as de banana, café e citros, secundadas por lavouras temporárias, como as de hortaliças, mandioca, milho e feijão, constituem a base da estrutura socioeconômica desse setor da floresta Atlântica (LINS, 1989). Segundo Lins (1989), a população dos brejos é distribuída de forma desproporcional entre proprietários, arrendatários, parceiros e ocupantes, sendo, em sua maioria, constituída por analfabetos ou semianalfabetos que manejam a terra por meio de técnicas tradicionais, reduzindo a produtividade. Segundo esta autora, boa parte da população é subnutrida, enfrenta desemprego sazonal (durante as entressafras) e tem difícil acesso aos principais serviços básicos.
Os espaços de Brejos de altitude teve no passado próximo uma enorme importância para economias locais, Gilberto Osório quando estudando os brejos elucidou essa condição quando afirmou: “(...) se feira terminou, quando desmancha as barracas e os toldos, vê-se os feirantes com os seus burros, e caixas, e balaios, rumando estrada a fora de regresso aos celeiros escondidos, são os Brejos” (OSÓRIO,1964). Ao sopé das serras de Brejo, desenvolveram-se muitas povoações ou situaram-se mesmo dentro de suas áreas, quando suficientemente amplas. Deste modo, os brejos constituem, de fato pólos de desenvolvimento, foram eles os criadores da civilização agrícola da caatinga.
Segundo Manoel Correia de Andrade (1968) os brejos como centro de desenvolvimento econômico apresentam duas paisagens naturais que deram origem naturalmente, as formas de povoamento, de exploração do solo e de paisagens culturais. Assim, nos planaltos existiam em geral grandes propriedades dedicada a pecuária extensiva de bovinos, caprinos e ovinos e à cultura do algodão.
Nas serras a paisagem é bem diversa, o povoamento é mais recente, pois os primeiros povoadores do sertão pouco numeroso, e preocupados com a pecuária, só as procuravam nas épocas de seca e as vezes para fazer pequenos roçados de lavoura de subsistência. Nela se refugiavam também, nos dois primeiros séculos, os indígenas, que só perderam o domínio das mesmas após a demorada Guerra dos Bárbaros. Especializam-se sobre tudo na cultura do café e da cana-de-açúcar para produção da rapadura e aguardente: nos últimos anos, porém, impossibilitados de competir com os produtos oriundos de áreas melhor localizadas, vem evoluindo para a policultura, desenvolvendo o cultivo de milho, do arroz e do feijão ao lado dos produtos tradicionais. (CORREIA, 1968, p.113-5).


2.6 Degradação dos Brejos de Altitude

         Os brejos poderiam ser considerados como unidades superiores de recursos naturais renováveis; megassistemas, se aceitos como complexos harmônicos resultantes de unidades menores que mutualmente se condicionem: solo, clima, água do solo, vegetação e fauna. E, como tal, são duplamente vulneráveis: em cada um dos seus componentes e no seu todo (SOBRINHO, p84 e 85. 1970).
            Segundo Sobrinho (1970) um fato que é constatado pelos estudiosos o extremo grau de degradação que apresentam os brejos: uns poucos, embora apareçam férteis, já não possuem as condições primitivas de produtividade que ofereciam aos primeiros ocupantes. E, então, somente se poderá esperar uma progressiva decadência em sua produtividade; em sua capacidade como centros de abastecimento das áreas que lhe são dependentes: eles próprios cada vez mais densamente povoados, diminuindo suas áreas de cultivo.
         Hoje tem em vista as potencialidades grande parte da floresta nordestina, incluindo os brejos, tem sido convertida em terras agricultáveis (Viana et al. 1997); as reservas naturais são pequenas e mal manejadas (Dias et al. 1990, Lima & Capobianco 1997) e a caça de subsistência é praticada de forma generalizada (ALMEIDA ET AL. 1995). De acordo com Ranta et a, (1998), grande parte do que restou desta floresta é composta por arquipélagos de fragmentos florestais, a maioria deles com menos de 10 hectares de área. Mesmo em áreas protegidas, a ausência de grandes vertebrados frugívoros é a regra (TABARELLI, 1998).

Quadro 03: Na tabela acima apresentam-se os tipos de vegetação e vegetação remanescente na floresta Atlântica nordestina. Na primeira coluna encontram-se os tipos de vegetação da floresta Atlântica, onde se percebe cinco sub-tipos de vegetação Atlântica; já na segunda coluna se enfatiza a quantidade total em Km² de cada sub-tipo de vegetação Atlântica e suas áreas em percentagem; na terceira coluna encontra-se a quantidade dos remanescentes em Km² dos sub-tipos da vegetação Atlântica e na quarta coluna o percentual dos remanescentes dos sub-tipos de floresta Atlântica; por fim na última linha o total do quantitativo de cada coluna. Fonte: SOS Mata Atlântica (1993), IBGE (1985
Tipos de Vegetação
Área de vegetação original (Km²)
Vegetação remanescente (Km²)
% do total
Formação pioneiras
4.739,06     (6,1% )
707,33
14,9

Áreas de tensão ecológica
  33.684,03   (43,8 %)
1.465,56
4,35

Flora Estacional semidecidual
17.677,5      (22,9)
1.942,7
10,9

Flora ombrófila Densa                       
6.122,01(7,9%)                   
277,9
4,5

Flora ombrófila aberta                       
14.715,86 (20,5%)
1.499,62               
10,19

Total
76.938,46
5.983,1     
7,6

De forma mais sistemática, os brejos têm sido convertidos em lavouras de café, banana e culturas de subsistência, como milho, feijão e mandioca, desde o século XIX (Lins 1989). Tais atividades têm representado perda e fragmentação de habitats, extração seletiva de plantas (e.g., madeiras, bromélias, plantas medicinais) e eliminação de grandes vertebrados pela caça (VASCONCELOS SOBRINHO 1971, SILVA & TABARELLI 2000). Sobrinho (1971) relata a existência de extensas florestas dominadas por cedro (Cedrelafissilis Vell Meliaceae) que sucumbiram devido à exploração madeireira na década de sessenta. Na verdade, a grande maioria das principais cidades situadas na região do semiárido nordestino está situada nas áreas de brejo, que ainda constituem celeiros agrícolas (LINS, 1989). O “refúgio das plantas” também tem sido um refúgio para as populações humanas pobres do semiárido nordestino.
Atualmente, restam 2.626,68 km² da vegetação original dos brejos (Tabela 4), a qual já representou, pelo menos, 18.500 km² de florestas semideciduais e ombrófilas abertas. Estes 2.626,68 km² de vegetação incluem também mosaicos com vegetação de cerrado e de caatinga (e.g., Chapada do Araripe, Ibiapaba), não discriminados no mapa de remanescentes (SOS MATA ATLÂNTICA, 1993). O valor da vegetação remanescente torna os brejos o setor mais ameaçado da floresta Atlântica brasileira, embora não seja possível estabelecer o quanto este valor representa em termos da área ocupada pela vegetação original, para a qual não há estimativas. Um outro setor ameaçado é a floresta Atlântica nordestina costeira (que se estende de Alagoas ao Rio Grande do Norte), que possui 3.197,62km² de floresta, mangues e restingas (5,6% da área de distribuição original, SOS Mata Atlântica 1993).

Quado 04. Nessa tabela encontramos os sub-tipos de vegetação remanescente nos brejos de altitude do Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco). Na primeira coluna temos os sub-tipos de remanescentes  vegetação nos brejo de altitude; na segunda coluna a área em Km²  remanescente dos sub-tipos de vegetação dos brejos de altitude; na terceira e última coluna o percentual de cada vegetação remanescentes e por fim na última linha o total em Km e Percentagem das vegetações remanescentes nos Brejos de Altitude. Fonte: SOS Mata Atlântica (1993), IBGE (1985).    

Tipos de vegetação              remanescente
Área de vegetação remanescente (km²)
% Vegetação

Áreas de tensão ecológica
872,86
33,2      
Fl. estacional semidecidual
1.057,94
40,3
Fl ombrófila aberta
695,88
26,5
Total
2.626,68
100
3 Conceito e tipologia do solo

Segundo organização governamental e cientistas do estudo relacionado ao solo, segue abaixo algumas definições sobre o mesmo. Coleção de corpos naturais constituídos por parte sólida, líquida e gasosa, tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais minerais e orgânicos, que ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais (EMBRAPA, 2006). O solo é o resultante da interação de cinco fatores ambientais: material de origem, clima, relevo, organismos e tempo (JENNY, 1941). A pedologia é a ciência que estuda a formação do solo, e foi iniciada na Rússia por Dokuchaiev no ano de 1880. Os solos correspondem a camada viva que recobre a superfície da terra, em evolução permanente, por meio da alteração das rochas e de processos pedogenéticos comandados por agentes físicos, biológicos e químicos. Para ISO 11074-1 de 1/08/1996 a definição diz que o solo é a camada superficial da crosta terrestre constituída por partículas minerais, matéria orgânica, água, ar e organismos vivos. Numa perspectiva mais funcional é de salientar também que o solo é o meio natural mais importante para o crescimento das plantas. Nota-se que todas definições apresentam em comum o solo como um organismo dotado de diversidades química, física e biológica e que são o suporte para a formação vegetal e vida no planeta, apesar de ser diferenciado no ponto de vista agronômico e geológico.


3.1 Tipos de Solos e solos pernambucanos

         A classificação pedológica nacional vigente consiste numa evolução do antigo sistema americano, formulado por Baldwin et al. (1938), modificada por Thorp & Smith (1949). As importantes mudanças que incidiram na trajetória da classificação de solos no sentido de sua nacionalização ora efetivada através das quatro aproximações elaboradas de 1980 a 1997 e da publicação do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 1998; 1999).
            A classificação de um solo é obtida a partir dos dados morfológicos, físicos, químicos e mineralógicos do perfil que o representa. Aspectos ambientais do local do perfil, tais como clima, vegetação, relevo, material originário, condições hídricas, características externas ao solo e relações solo-paisagem, são também utilizadas.
A classificação de um solo começa no momento da descrição morfológica do perfil e na coleta de material no campo, que devem ser conduzidas conforme critérios estabelecidos nos manuais (LEMOS & SANTOS, 1996; SANTOS et al., 2005; IBGE, 2005), observando-se o máximo de zelo, paciência e critério na descrição do perfil e da paisagem que ele ocupa no ecossistema.
Dentre os tipos de solos existentes e classificados pelo sistema brasileiro de classificação de solo, encontramos: argissollos, cambissollos, chernossolos, espodossolos, gleissolos, latossolos, luvissolos, neossolos, nitossolos,  organossolos, planossolos,  plintossolos, vertissolos.

Argissolos: Grande parte dos solos desta classe apresenta um evidente incremento no teor de argila do horizonte superficial para o horizonte B, com ou sem decréscimo, para baixo no perfil. A transição entre os horizontes A e Bt é usualmente clara, abrupta ou gradual.
São de profundidade variável, desde forte a imperfeitamente drenados, de cores avermelhadas ou amareladas, e mais raramente, brunados ou acinzentadas. A textura varia de arenosa a argilosa no horizonte A e de média a muito argilosa no horizonte Bt, sempre havendo aumento de argila daquele para este (EMPRAPA, SETEMBRO 2009).
         Cambissolos: Compreendem solos constituídos por material mineral, com horizonte B incipiente subjacente a qualquer tipo de horizonte superficial, desde que em qualquer dos casos não satisfaçam os requisitos estabelecidos para serem enquadrados nas classes Vertissolos, Chernossolos, Plintossolos ou Gleissolos. Têm seqüência de horizontes A ou hístico, Bi, C, com ou sem R. Devido à heterogeneidade do material de origem, das formas de relevo e das condições climáticas, as características destes solos variam muito de um local para outro. Assim, a classe comporta desde solos fortemente até imperfeitamente drenados, de rasos a profundos, de cor bruna ou bruno-76 amarelada até vermelho escuro.
Chernossolos:- São solos normalmente pouco coloridos (escuros ou com tonalidades pouco cromadas e de matizes pouco avermelhados), bem a imperfeitamente drenados, tendo seqüências de horizontes A-Bt-C ou A-Bi-C, com ou sem horizonte cálcico, e A-C ou A-R, desde que apresentando caráter carbonático ou horizonte cálcico.
São solos moderadamente ácidos a fortemente alcalinos, com argila de atividade alta, com capacidade de troca de cátions por vezes superior a 100 cmolc/kg de argila, saturação por bases alta, geralmente, superior a 70%, e com predomínio de cálcio ou cálcio e magnésio, entre os cátions trocáveis.
Embora sejam formados sob condições climáticas bastante variáveis e a partir de diferentes materiais de origem.
Espodossolos: A cor do horizonte A varia de cinzenta até preta e a do horizonte E desde cinzenta ou acinzentada-clara até praticamente branca. A cor do horizonte espódico varia desde cinzenta, de tonalidade escura ou preta, até avermelhada ou amarelada.
A textura do solum é predominantemente arenosa, sendo menos comumente textura média e raramente argilosa (tendente para média ou siltosa) no horizonte B. A drenagem é muito variável, havendo estreita relação entre profundidade, grau de desenvolvimento, endurecimento ou cimentação do B e a drenagem do solo.
São solos, em geral, muito pobres em fertilidade, moderada a fortemente ácidos, normalmente com saturação por bases baixa, podendo ocorrer altos teores de alumínio extraível. Podem apresentar fragipã, duripã ou “ortstein” 80 .
Gleissolos: Os solos desta classe encontram-se permanente ou periodicamente saturados por água, salvo se artificialmente drenados. A água permanece estagnada internamente, ou a saturação é por fluxo lateral no solo. Em qualquer circunstância, a água do solo pode se elevar por ascensão capilar, atingindo a superfície.
            São solos mal ou muito mal drenados, em condições naturais, tendo o horizonte superficial cores desde cinzentas até pretas, espessura normalmente entre 10 e 50cm e teores médios a altos de carbono orgânico. São solos que ocasionalmente podem ter textura arenosa (areia ou areia franca) somente nos horizontes superficiais, desde que seguidos de horizonte glei de textura franco arenosa ou mais fina.
Latossolos: São solos em avançado estágio de intemperização, muito evoluídos, como resultado de enérgicas transformações no material constitutivo. Os solos são virtualmente destituídos de minerais primários ou secundários menos resistentes ao intemperismo.
Variam de fortemente a bem drenados, embora ocorram solos que têm cores pálidas, de drenagem moderada ou até mesmo imperfeitamente drenados, transicionais para condições com um certo grau de gleização, são normalmente muito profundos, em geral, solos fortemente ácidos, com baixa saturação por bases, distróficos ou alumínicos.
São típicos das regiões equatoriais e tropicais, ocorrendo também em zonas subtropicais, distribuídos, sobretudo, por amplas e antigas superfícies de erosão, pedimentos ou terraços fluviais antigos, normalmente em relevo plano e suave ondulado, embora possam ocorrer em áreas mais acidentadas, inclusive em relevo montanhoso. São originados a partir das mais diversas espécies de rochas e sedimentos, sob condições de clima e tipos de vegetação os mais diversos.
Luvissolos: Estes solos variam de bem a imperfeitamente drenados, sendo normalmente pouco profundos (60 a 120cm). Podem ou não apresentar pedregosidade na parte superficial e o caráter solódico ou sódico, na parte subsuperficial.
O horizonte Bt é de coloração avermelhada, amarelada e menos freqüentemente, brunada ou acinzentada. A estrutura é usualmente em blocos, moderada ou fortemente desenvolvida, ou prismática, composta de blocos angulares e subangulares. São moderadamente ácidos a ligeiramente alcalinos, com teores de alumínio extraível baixos ou nulos.
Neossolos:  Compreende solos constituídos por material mineral, ou por material orgânico pouco espesso, que não apresentam alterações expressivas em relação ao material originário devido à baixa intensidade de atuação dos processos pedogenéticos, seja em razão de características inerentes ao próprio material de origem, como maior resistência ao intemperismo ou composição química, ou dos demais fatores de formação (clima, relevo ou tempo), que podem impedir ou limitar a evolução dos solos.
Nitossolos: Compreende solos constituídos por material mineral, com horizonte B nítico, textura argilosa ou muito argilosa (teores de argila maiores que 350g/kg de solo a partir do horizonte A), estrutura em blocos subangulares ou angulares, ou prismática, de grau moderado ou forte, com cerosidade expressiva nas superfícies dos agregados ou caráter retrátil.
Esta classe exclui solos com incremento no teor de argila requerido para a maior parte do horizonte B textural. São, em geral, moderadamente ácidos a ácidos, com argila de atividade baixa ou com caráter alítico, com composição caulinítico - oxídica.
Organossolos: Compreende solos pouco evoluídos, com predominância de características devidas ao material orgânico, de coloração preta, cinzenta muito escura ou brunada, resultantes de acumulação de restos vegetais, em graus variáveis de decomposição, em condições de drenagem restrita (ambientes mal a muito mal drenados), ou em ambientes úmidos de altitudes elevadas, saturados com água por apenas poucos dias durante o período chuvoso.
Ocorrem normalmente em áreas baixas de várzeas, depressões e locais de surgentes, sob vegetação hidrófila ou higrófila, quer do tipo campestre ou florestal. Ocorrem também em áreas que estão saturadas com água por poucos dias (menos de 30 dias consecutivos) no período das chuvas, situadas em regiões de altitudes elevadas e úmidas durante todo o ano, neste caso estando normalmente assentes diretamente sobre rochas não fraturadas.
Planossolos: Os solos desta classe ocorrem preferencialmente em áreas de relevo plano ou suave ondulado, onde as condições ambientais e do próprio solo favorecem vigência periódica anual de excesso de água, mesmo que de curta duração, especialmente em regiões sujeitas à estiagem prolongada, e até mesmo sob condições de clima semiárido.
Nas baixadas, várzeas e depressões, sob condições de clima úmido, estes solos são verdadeiramente solos hidromórficos.  Embora, em zonas semiáridas e, mesmo em áreas onde o solo está sujeito apenas a um excesso d’água por curto período, principalmente sob condições de relevo suave ondulado, não chegam a ser propriamente solos hidromórficos. Entretanto, é difícil distinguir, sem observações continuadas e em períodos de seca e chuvosos, se as cores pálidas do solo resultam ou não da expressão de processos atuais de redução.
Plintossolos: Compreende solos minerais, formados sob condições de restrição à percolação da água, sujeitos ao efeito temporário de excesso de umidade, de maneira geral imperfeitamente ou mal drenados.
Alguns solos desta classe, embora tenham sua gênese associada a condições de excesso de umidade ou restrição temporária à percolação d’água, ocorrem nos tempos atuais em condições de boa drenagem, podendo apresentar cores avermelhadas na maior parte do perfil.
São típicos de zonas quentes e úmidas, mormente com estação seca bem definida ou que, pelo menos, apresentem um período com decréscimo acentuado das chuvas. Ocorrem também na zona equatorial perúmida e mais esporadicamente em zona semiárida.
            Vertissolos: Variam de pouco profundos a profundos, embora ocorram também solos rasos. Em termos de drenagem, variam de imperfeitamente a mal drenados. Quanto à cor, podem ser escuros, acinzentados, amarelados ou avermelhados. Fisicamente, quando úmidos, têm permeabilidade muito lenta. A textura é normalmente argilosa ou muito argilosa, embora possa ser média (com um mínimo de 300g de argila por kg de solo) nos horizontes superficiais; quanto à consistência, varia de muito duro a extremamente duro quando seco, sendo firme a extremamente firme quando úmido, e muito plástico e muito pegajoso quando molhado.
São solos desenvolvidos normalmente em ambientes de bacias sedimentares ou a partir de sedimentos com predomínio de materiais de textura fina e com altos teores de cálcio e magnésio.

Mapa 02: Mapa de solos do Estado de Pernambuco. Vê-se os tipos de solos representados por manchas de cores diferenciadas, em cor laranja observa-se os solos Podzólicos comum na Zona da Mata, no Agreste e pequenos focos no Sertão do Estado. Na cor amarela vê-se o solo Latossolo comum na Zona da Mata e presente na parte mais Oeste do Sertão, em cor vermelha tem-se os solos Litólicos presente na parte em o Estado se divide com a Paraíba, em cor branca vê-se os Regossolos bem presente no agreste do Estado, em tom de marrom nota-se os solos Bruno Não Cálcico presente no Sertão do Estado, em cor azul observa-se o solo de Areia Quartzosa e por fim os solos Planossolos representado epela cor cinza e presente na Zona da Mata e Agreste. Fonte: SUDENE. Uso atual e potencial dos solos do Nordeste, 1985. ORG: Maria Jaci Câmara de Albuquerque DES./ ED. GRAF. : Fernando J. C. C. Lins.


4.0 AS SECAS NO NORDESTE BRASILEIRO

         O Brasil é vulnerável às mudanças climáticas atuais e mais ainda às que se projetam para o futuro, especialmente quanto aos extremos climáticos. As áreas mais vulneráveis compreendem a Amazônia e o Nordeste do Brasil, como mostrado em estudos recentes. associada aos fenômenos de El Niño, La Niña, ou à variabilidade na temperatura da superfície do mar do Atlântico Tropical e Sul podem gerar anomalias climáticas, que produzem grandes secas, como em 1877, 1983 e 1998 no Nordeste, 2004-2006 (Marengo, 2007; Ambrizzi et al., 2007; Marengo et al., 2007) apud  Revista de Geografia (UFPE) V. 29, No. 2, 2012.
         Caracterização da Região representando 18,3% do território brasileiro, 
o Nordeste é formado por nove estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
           A região semi-árida nordestina é, fundamentalmente, caracterizada pela ocorrência do bioma da caatinga, que constitui o sertão. O sertão nordestino apresenta clima seco e quente, com chuvas que se concentram nas estações de verão e outono. A região sofre a influência direta de várias massas de ar (a Equatorial Atlântica, a Equatorial Continental, a Polar e as Tépidas Atlântica e Calaariana) que, de certa forma, interferem na formação do seu clima, mas essas massas adentram o interior do Nordeste com pouca energia, tornando extremamente variáveis não apenas os volumes das precipitações caídas mas, principalmente, os intervalos entre as chuvas. No Semi-árido chove pouco (as precipitações variam entre 500 e 800 mm, havendo, no entanto, bolsões significativos de 400 mm) e as chuvas são mal distribuídas no tempo, sendo uma verdadeira loteria a ocorrência de chuvas sucessivas, em pequenos intervalos ( Suassuna, João, 2002).
O problema não é novo, nem exclusivo do Nordeste Brasileiro. Ocorre com freqüência, apresenta uma relativa periodicidade e pode ser previsto com uma certa antecedência. A seca incide no Brasil, assim como pode atingir a África, a Ásia, a Austrália e a América do Norte. No Nordeste, de acordo com registros históricos, o fenômeno aparece com intervalos próximos a dez anos, podendo se prolongar por períodos de três, quatro e, excepcionalmente, até cinco anos. As secas são conhecidas, no Brasil, desde o século XVI (GASPAR, Lúcia, 2009).
A seca se manifesta com intensidades diferentes. Depende do índice de precipitações pluviométricas. Quando há uma deficiência acentuada na quantidade de chuvas no ano, inferior ao mínimo do que necessitam as plantações, a seca é absoluta. Em outros casos, quando as chuvas são suficientes apenas para cobrir de folhas a caatinga e acumular um pouco de água nos barreiros e açudes, mas não permitem o desenvolvimento normal dos plantios agrícolas, dá-se a seca verde, GASPAR, Lúcia, 2009.
Essas variações climáticas prejudicam o crescimento das plantações e acabam provocando um sério problema social, uma vez que expressivo contingente de pessoas que habita a região vive, verdadeiramente, em situação de extrema pobreza. A seca é o resultado da interação de vários fatores, alguns externos à região (como o processo de circulação dos ventos e as correntes marinhas, que se relacionam com o movimento atmosférico, impedindo a formação de chuvas em determinados locais), e de outros internos (como a vegetação pouco robusta, a topografia e a alta refletividade do solo), GASPAR, Lúcia, 2009.
Grande parte dos países menos desenvolvidos, a exemplo do Brasil, já enfrenta períodos incertos e irregulares de chuvas, e as previsões para o futuro indicam que as mudanças climáticas vão tornar a oferta de água cada vez menos previsível e confiável. Economizar água para o futuro não é, portanto, lutar por um objetivo distante e incerto. As tendências atuais de exploração, degradação e poluição dos recursos hídricos já alcançaram proporções alarmantes, e podem afetar a oferta de água num futuro próximo caso não sejam revertidas (MARENGO, 2008).
         O clima do Nordeste também sofre a influência de outros fenômenos, tais como: El Niño, que interfere principalmente no bloqueio das frentes frias vindas do sul do país, impedindo a instabilidade condicional na região, e a formação do dipolo térmico atlântico, caracterizado pelas variações de temperaturas do oceano Atlântico, variações estas favoráveis às chuvas no Nordeste, quando a temperatura do Atlântico sul está mais elevada do que aquela do Atlântico norte ( Suassuna, João, 2002).
         Segundo Barbosa em entrevista ao centro Sabiá, as secas no Nordeste brasileiro ao longo dos estudos, monitoramento e relatos de pesquisadores, até os dias atuais a região foi atingidas por 72 secas, um número considerável. Dessas 40 foram anuais, ou seja, aconteceram em um ano, e 32 foram plurianuais, ou seja, aconteceram para além de um ano. Essa que nós estamos vivendo em iniciada em 2012 é plurianual. Então essa é uma das maiores secas dos últimos 30, 40 ou 50 anos, ou em alguns casos do últimos 60 anos. No caminho das secas, igual a essa, agente teve uma em 1982; igualmente tivemos em 1932; e outra grande seca em 1915.
          
A formação histórica da economia da extensa região semiárida nordestina tem, inegavelmente, no fator água, um de seus elementos mais fundamentais. A disponibilidade da água, com efeito, condicionou, historicamente, de forma marcada, toda orientação do processo de povoamento e ocupação que resultou na atual estrutura produtiva. Este papel central do fator água delineia-se, simultaneamente, no nível de sobrevivência dos homens e dos animais bem como da produção agropecuária, setor dominante da economia regional, no qual figura como um dos fatores de produção essenciais.  (Pessoa, 1970)

4.1 SECA DE 1970

A parir de Critérios como: Pluviosidade da ordem de 700 mm/ano. Outros fatores, com efeito, estão na origem do fato de que, não obstante o volume totais das precipitações, se configure a característica de semiaridez da região. Um destes fatores é concentração de chuvas resultando uma longa estação de 6 a 8 meses absolutamente secas, irregularidade na distribuição das chuvas no tempo, capacidade física do solo de absorção das águas das chuvas o que ocasiona grandes perdas de água por escoamento e evaporação, Pessoa, 1970. A partir daí conseguiu delimitar a área das do semiárido e consequentemente do polígono das secas.

Quadro 5: Verifica-se a distribuição das unidades da federação onde se instalou a seca de 1970, sendo 9 estados. Nota-se que om Estado onde a seca ocupou maior parte do território foi o da Paraíba atingindo 97, 78% do território e menos ocupado pela seca foi o Estado de Minas Gerais com apenas 16,91% do seu território. Já o Estado que possui maior área dentro do polígono das secas é a Bahia com 32,73 de seu território.  Fonte: IBGE e SUDENE.

ÁREA DO POLÍGONO DAS SECAS, POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO
Unidades
da
Federação
Área
Territorial
(Km²)

 

Absoluta
(Km²)
Área do Polígono
% Relativa ao Total
Da Unidade da               Do Polígono
Federação               
Piauí
250.934
207.019
82,50
21,16
Litígio Piauí Ceará
2.614
2.614
100,00
0,27
Ceará
148.016
136.526
92,24
13,96
Rio Grande do Norte
53.015
48.031
90,60
4,91
Paraíba
56.372
55.119
97,78
5,64
Pernambuco
98.281
87.484
89,01
8,94
Alagoas
27.652
12.266
44,36
1,25
Sergipe
21.994
10.395
47,26
1,06
Bahia
559.951
320.211
57,18
32,73
Minas Gerais
583.284
98.626
16,91
10,08
Total
100,00

De acordo com Pessoa, (1970) a seca do ano 70 causou uma situação ao agricultor evidentemente mais calamitosa, pelo efeito da descapitalização determinada pelas tentativas de plantios sucessivos improdutivos, enquanto a seca de 1958 se manifestou mais cedo, ou antes, mais definitiva e mais “inequívoca”. A intermitência verificada em 1970, fatal para as lavouras anuais, comprometeu de forma visivelmente menos aguda os pastos naturais, em oposição a de 1958. Em síntese, a seca de 1958 teria sido mais grave para os criadores; e a de 1970 mais grave para os agricultores.

Quadro 6: Quantidade e valor da produção dos principais produtos dos anos: 1957,1958, 1969 e 1970. Verifica-se que as culturas que obteve maior impacto foi  o Feijão e o Milho, exatamente ambos são cultivados nas áreas do polígono das secas, as demais produção tiveram pouca redução ou não apresentaram redução motivo por serem cultivadas sobre áreas irrigadas. Vê-se que o feijão teve uma redução de quase 50% do ano de seca em relação ao ano anterior a ela, o milho seguiu basicamente os mesmos percentuais. Fonte: IBGE: Anuário Estatístico do Brasil, 1959 e 1971.

Quantidade e Valor da Produção dos Principais Produtos das Lavouras, 1957-1958 e 1969-1970
Produtos
Quantidade (1000 t)
Valor 1958/1957
(Preços Const. c/
Valor 1958/1957
(Preços Const. c/
1957
1958
1969
1970
A. Culturas Alimentares
87
85
Abacaxi a/
56
61
130
133
108
102
Alho
-
-
4
4
-
100
Arroz
471
371
1.037
856
79
83
Banana b/
66
61
189
201
93
106
Batata-Doce
319
266
588
522
83
89
Batata Inglesa
28
22
31
18
80
58
Café
61
62
69
68
102
98
Cana
18.291
17.929
27.211
26.900
98
96
Cebola
23
28
40
84
120
210
Coco
302
341
695
612
112
88
Feijão
436
249
818
448
57
55
Mandioca
7.155
6.365
13.009
12.198
89
94
Milho
894
511
1.541
871
57
56

4.2 SECA DE 1979 e 1980
         O estudo da grande seca que assola a região nordeste do Brasil a partir de 1979 suscita dois tipos de desafios no plano de compreensão: a do fenômeno recorrente das grandes secas nordestina e a da singularidade desta seca específica, Cavalcanti, 2002.

4.2.1 A questão da água
            A determinação da água como disponibilidade, ou seja, como parcela das potencialidades naturais ativadas pela ação do homem, envolvendo tecnologia (desenvolvimento hidráulico por meio de barragens, canais, poços, diques, etc.), localização, regime, finalidade, tipo de uso, Cavalcanti, 2002.

Quadro 7: Nota-se que apenas 2% da população rural tem acesso a um sistema de abastecimento de água com canalização interna e a água de qualidade supostamente mais garantida. Vê-se que que o uso de água de poço ou nascente representa pouco mais de um terço da forma de abastecimento d’água e a maior parte da população rural no Nordeste no ano de 1979 usa outros meios de abastecimentos de água para consumo o que demonstra a ineficiência do poder público em garantir água para população rural. Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, 1978, Região V.

Nordeste Rural:  Domicílios e Moradores por tipo de Abastecimento D’água (1978)
Características
ABS. (100)
Porcentagens


Domicílios
Moradores
Domicílios
Moradores
Rede Geral
85,0
487,0
2,5
2,5
Com canalização interna
30,8
168,4
0,9
0,9
Sem canalização interna
54,2
288,6
1,6
1,6

Poços ou Nascentes
1.142,6
6.322,9
34,0
34,4
Com canalização interna
21,3
124,5
0,6
0,7
Sem canalização interna
1,121,3
6.198,4
33,4
33,7

Outra Forma
2.134,9
11.575,8
63,5
63,1
Com canalização interna
8,8
51,1
0,3
0,3
Sem canalização interna
2.126,1
11.524,7
63,2
62,8

TOTAL
3.362,5
18.355,7
100
100

Para Cavalcanti, 2002. As repercussões da seca como “falta d’água” incidem diferentemente sobre a população segundo as considerações de tempo e espaço, segundo a fonte de abastecimento e segundo o destino da água. 

Quadro 8: Verifica-se que a principal fonte de abastecimento d’água a seca de 1979 eram as cacimbas ou olha d’águas representando mais de um terço desse abastecimento, as propriedade que possuíam esse recurso tiveram menos impacto com a seca. Nota-se que apenas 1,5% dos abastecimento eram oriundos de cisternas o que demonstra que esse técnica de reserva de água era pouco difundido nesse período. Os meio de abastecimento por açude e poço eram bem significativo. Fonte: Pesquisa direta da Fundaj.

FONTES DE ABSTECIMENTO D’AGUA DOS TRABALHADORES
ALISTADOS –SECA 1979
FONTES
PROPORÇÕES (%)
Açude
16,9
Carro Pipa
7,5
Poço
18,7
Cacimba d’água
39,6
Rio ou riacho
11,5
Cisterna
1,5
Encanação
4,3


Segundo Cavalcanti, 2002, essa situação teria evidentemente de se agravar com a sucessão dos anos de seca, a tal ponto que no final e 1983 a SUDENE, mobilizava, para o suprimento de água da população mais de 4 mil carros-pipa a um custo mensal superior a 2 bilhões de cruzeiros.
            Mas uma vês como no caso da seca de 1970, a seca causa maior impacto na produção agrícola, ocasionando a falta de suprimento de grãos para as famílias agricultoras.








NORDESTE: Principal Prejuízo  Causado pela Seca na Opinião dos Trabalhadores Alistados, 1979 (%)
Prejuízos
PROPORÇÕES (%)
Perda da Lavoura
67,0
Desfez-se da Pecuária
1,4
Não poder plantar
3,5
Falta D’água
4,2
Carestia
2,8
Doença
4,2
Falta de pastagem
2,5
Falta de Trabalho
0,7
Outro
1,1
Nenhum
12,4
Quadro 9: Verifica-se que claramente que o principal problema citados trabalhadores afetados pela seca e alistado nas emergência foi a perda da lavoura quase 70% tiveram essa opinião, o que demonstra que o maior impacto foi na produção agrícola, Vê-se 12% dos trabalhadores não identificaram problemas e que pouco se desfez do rebanho pecuário fator esse explicado pelo fato de ser o ano inicial da seca, tendo ainda um pouco de água acumulada nos barreiros e açudes e cacimbas. Já no caso da produção agrícola a diminuição da chuva ou a má distribuição dela irá acarretar uma perda instantânea uma vez que a cultura é de sequeiro. Fonte: Pesquisa direta da Fundaj.

            A incidência da seca sobre a produção agropecuária é, em princípio, tão grave, quanto aquela sobre o consumo de água da população, pois “a falta de água da sede,  a falta de produção leva á fome – como declarou uma agricultor. CAVALCANTI, 2002.
            Para Cavalcanti, 2002, as atividades menos resistentes e, portanto, mais arriscadas são as lavouras e, dentre estas, as lavouras anuais de subsistência e particularmente o milho.






Nordeste: Quantidade de produção Própria de Lavouras dos Trabalhadores Alistados, por Produto, 1978 e 1979
Produto (Unidade)
Nº de Informantes
(78/79)
%
Quantidade Total
Quantidade Média
Por
Informante
Por Trabalhador
Alistado
Por Infor.
Por Trab. Alis.
1978
Feijão (Kg)
604

233.785
370,5


Milho (Kg)
540

460.022
851,9


Arroz (Kg)
65

25.333
389,7


Algodão (Arroba)
475

21.036
44,3


Mamona (Arroba)
6

1.648
280,7


1979
Feijão (Kg)
359
59
72.643
202,3
45
67
Milho (Kg)
287
53
127.189
443,2
48
72
Arroz (Kg)
28
43
4.885
174,5
55
81
Algodão (Arroba)
353
74
7.335
20,8
53
65
Mamona (Arroba)
3
50
167
55,7
80
90
Quadro 10: Nota-se que as culturas mais representativas para os trabalhadores são o Feijão e o Milho, ambas tiveram um decréscimo de quase 50% em ralação ao ano anterior a seca. Sendo as lavouras de  subsistência dos trabalhadores e familiares. Fonte: Pesquisa direta da Fundaj.

            A anormalidade do regime pluviométrico do ano 1979 acarretou uma série de distúrbio nas frágeis atividades agropecuárias tradicionalmente desenvolvidas e, em consequência, graves problemas econômicos e sociais ao sertão semiárido do Nordeste brasileiro. CACALCANTI, 2002.

4.3 A SECA DE 1993
      A ocorrência de uma grande seca torna-se um verdadeiro flagelo, que, no decorrer dos últimos 100 anos, não assumiu dimensões ainda maiores por dois motivos atenuadores: a emigração em massa de flagelados das áreas rurais castigadas e os programas públicos de socorro às vítimas na forma de frentes e de trabalho, Moreira filho, 2002.
       Para Moreira filho, 2002 a intensidade de utilização das terras no Nordeste é determinada tanto pelas condições ambientais como pelos padrões de organização fundiária. A distribuição das terras nordestinas ainda são muito desiguais, apesar de ter havido uma diminuição do número de minifúndios e da área por eles ocupada no decorrer das duas últimas décadas. Esse fator colabora para acentuar os problemas socioeconômicos em anos de seca.


Quadro 11: Nordeste: Número de imóveis rurais e área agrícolas/1992. Verifica-se que enquanto que os imóveis com menos de 50 hectares correspondem a 74,9% dos estabelecimentos em 1992, o espaço que ocupavam representava 12,0% da área total. No outro extremo da distribuição das terras, os imóveis com mais de 200 hectares representavam 7,0% de todos os estabelecimentos e ocupavam 68,6% da área total. Percebe-se o grau de concentração das terras no Nordeste, pouca terra na mão e muitos agricultores e muita terra na mão de poucos latifundiários. Esse fator de concentração das terras acentua os problemas nos períodos de seca, pois propriedades pequenas apresenta menos recursos para serem utilizados nos anos de seca. Fonte: INCRA (1992).

Classe de Áreas (Ha)
Total de Imóveis
Área total (Ha)
Nº ABS.
%
Nº ABS
%
0,1 a menos de 10
661.784
38,3
2.695.880,9
1,8
10 a menos de 50
632.054
36,6
15.230.842,2
10,2
50 a menos de 100
195.635
11,3
13.286.705,5
8,9
100 a menos de 200
117.567
6,8
15.733.404,6
10,5
200 a menos de 500
76.461
4,4
23.041.113,8
15,4
Mais de 500
43.462
2,6
79.490.709,2
53,2
TOTAL
1.726.963
100
149.478.656,2
100
Os estudos meteorológicos segundo Moreira filho, 2002, o quadro chuvoso foi iniciado em janeiro de 1993, com dados do mês de dezembro de 1992, de modo que se pudesse antever as precipitações de fevereiro a maio. As chuvas acumuladas no Sertão e no Agreste de Pernambuco no primeiro semestre de 1993, estiveram muito abaixo da média, variando de 10% a 60% do total médio da quadra chuvosa.


Quadro 12: Pernambuco: Precipitação pluviométrica, período Jan/Jun./93 e a média histórica no período 1970-1991- Município selecionados. Nota-se que, na realidade as chuvas desse ano foi extremamente baixa. Os dados demonstram que a precipitação de 1993, em nenhum dos meses ou municípios considerados, ultrapassou a média, havendo caso que se afastou, para menos, de forma bastante significativa, Moreira filho, 2002. Vê-se no caso do muncípio de Afogados da Ingazeira os meses de janeiro a junho possui uma média histórica de 641,4 mm e as precipitações neste ano de seca atingiu apenas 77 mm, o que demonstra um grande problema na acumulação de água para uso humano e animal e um prejuízo grande na produção dos principais produtos agrícola do semiárido o milho e o feijão. Fonte: Emater-PE

Pernambuco: Precipitação Pluviométrica, Período Jan./Jun./93 e a Média Histórica no Período 1970-1991 - Município Selecionados
Municípios
Janeiro
Fvereiro
Março
Abril
Maio
Junho
M.H
1993
M.H
1993
M.H
1993
M.H
1993
M.H
1993
M.H
1993
Afo. da Ingazeira
61,2
60
103,8
1
201,2
0
187,2
0
55,0
15
33,0
1
Araripina
112,1
107
131,5
44
184,8
60
129,6
11
35,7
0
16,7
23
Arcoverde
58,0
7
56,3
5
123,9
1
131,6
31
79,5
19
65,6
71
Belém do S. Francisco
67,7
57
58,2
4
139,4
0
76,6
2
21,1
19
12,8
8
Caruaru
16,6
0
34,4
0
112,5
15
110,0
25
91,9
45
57,6
32
Gravatá
27,6
11
42,1
3
13,5
35
120,1
18
93,5
33
88,6
55
Lajedo
50,6
3
47,1
14
14,3
5
132,3
28
82,9
27
110,9
68
Petrolina
68,6
36
64,2
40
144,5
0
80,0
6
23,0
0
6,2
0
Salgueiro
98,2
72
108,1
39
164,0
30
122,8
65
26,7
5
17,8
6
Serra Talhada
98,8
53
110,6
30
158,7
52
137,1
49
47,9
39
35,5
17
Surubim
17,6
2
29,0
0
85,3
19
119,6
21
93,5
17
83,0
50
Ouricuri
93,0
43
118,0
52
167,0
35
86,2
8
26,6
0
12,6
0
Ibimirim
58,9
32
55,9
0
109,3
0
71,5
1
29,4
9
17,0
17


Os efeitos da seca de 1993 marcaram profundamente a economia da região, uma vês que desorganizaram todo o sistema produtivo local, com reflexos que se fizeram sentir por vários anos. As perdas agrícolas atingiram a maioria das culturas em sua totalidade, deixando sem qualquer tipo de rendimento a grande massa de trabalhadores rurais, os quais, se já viviam um cotidiano de condições precárias, passaram apenas em sobreviver em estado de pobreza absoluta... MOREIRA FILHO,2002.

Quadro 13: Área cultivada (colhida), produção e rendimento das principais lavouras(1988/1993), do município de Ouricuri. Verifica-se um enorme decréscimo nas culturas temporárias tanto na área colhida, produção e rendimento, nos anos de 1988, 89, 90, 91, 92. Vê-se uma extrema queda no ano de seca 1993, das culturas temporárias em algumas culturas como o milho que nem área cultivada existiu. Afetando tanto a renda e a limentação dos agricultores como a disponibilidade do produto na cidade. Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1980, 1991, 1996. 

Área Cultivada (Colhida), Produção e Rendimento das Principais Lavouras(1988/1993)
Culturas
Safra 1988
Safra 1989*
Safra 1990
Área Colhida (ha)
Produção
(t)
Rendim.
Kg/ha
Área Colhida (ha)
Produção
(t)
Rendim.
Kg/ha
Área Colhida (ha)
Produção
(t)
Rendim.
Kg/ha
Temporárias
Algod. Herb
4.250
1.700
400
518
259
500
315
63
200
Arroz
3.894
11.906
3.057
2.980
9.766
3.277
1.421
6.896
4.852
Feijão
3.320
498
150
2.789
837
300
-
-
-
Mandioca
17
136
8.000
27
216
8.000
28
168
6.000
Milho
4.748
1.899
399
3.703
926
250
-
-
-
Tomate
100
3.000
30.000
110
3.300
30.000
165
4.950
30.000
Permanentes
Algod. Arb.
550
44
80
553
22
39
350
7
20
Banana
648
1.620
2.500
650
1.625
2.500
720
2.500
3.472
Goiaba
108
3.240
30.000
109
3.270
30.000
221
2.307
10.439
Manga
51
7.650
150.000
51
7.650
150.000
51
7.650
150.000
Culturas
Safra 1991
Safra 1992
Safra 1993
Área Colhida (ha)
Produção
(t)
Rendim.
Kg/ha
Área Colhida (ha)
Produção
(t)
Rendim.
Kg/ha
Área Colhida (ha
Produção
(t)
Rendim.
Kg/ha
Algod. Herb
720
720
1.000
2.500
810
324
600
216
360
Arroz
3.642
12.412
3.408
1.603
5.591
3.488
400
2.000
5.000
Feijão
3.681
1.104
300
2.207
77
35
-
-
-
Mandioca
28
224
8.000
28
224
8.000
4
18
4.500
Milho
5.293
2.647
500
5.295
1.022
193
-
-
-
Tomate
280
8.400
30.000
100
3.000
30.000
100
3.000
30.000
Permanente
Algod. Arb.
140
14
100
60
1
17
-
-
-
Banana
402
1.005
2.500
600
1.500
2.500
300
750
2.500
Goiaba
100
3.000
30.000
50
1.500
30.000
30
600
20.000
Manga
51
4.080
80.000
51
4.080
80.000
51
3.060
60.000

O mesmo se pode dizer da pecuária foi fortemente afetada pela estiagem, pois, não havendo pastagem natural ou artificial nem silagem nem fenação para alimentação dos rebanhos, os criadores locais se viram obrigados a de desfazer dos rebanhos. MOREIRA FILHO, 2002.

Quadro 14: Evolução dos principais rebanhos e da produção de leite bovinos, do Município de Ouricuri. Nota-se que, a partir de 1990, o efetivo anima apresentou queda gradativa, correspondente a , aproximadamente, ¾ do rebanho existente em 1989/1990. Vê-se uma agravamento no que se tange ao criatório bovino, que, em 1993, sofreu uma série diminuição, equivalente a cerca de 78% em relação ao ano de 1989, com redução da produção leiteira, no mesmo espaço de tempo, em torno de 73%. Fonte: IBGE, Produção pecuária municipal, 1988 a 1993

Anos
Rebanho
Produção de Leite
Bovino (1000 l)
Bovino
Caprino
Ovino
1988
37.555
95.475
33.558
2.647
1989*
38.118
96.429
33.893
2.687
1990
38.880
91.607
34.570
2.803
1991
37.713
89.774
33.878
2.441
1992
36.959
85.285
32.861
2.392
1993
8.586
24.914
9.858
718
INCREMENTO(%) 1989=100
1988/1989
98,5
99,0
99,0
98,5
1990/1989
102,0
95,0
102,0
104,3
1991/1989
89,9
93,1
99,9
90,8
1992/1989
97,0
88,4
96,9
89,0
1993/1989
22,5
25,8
29,1
26,7

5. Caracterização do Município de Brejo da Madre de Deus

O município do Brejo da Madre de Deus localiza-se na Mesorregião do Agreste Pernambucano, especificamente na Microrregião do Vale do Ipojuca, faz fronteiras ao Norte com o município de Santa Cruz do Capibaribe, ao Sul com Belo Jardim, ao Oeste com Caruaru, e ao Leste com Jataúba. A área é delimitada pelo paralelo de S - 08º08'45", e o meridiano de W - 36º22'16".  O acesso ao município mais utilizado é o rodoviário, através das BR – 232, BR – 104 e PE – 145 que possui uma distância da capital Recife de aproximadamente 204 Km.
A sede municipal encontra-se a 627 m de altitude e próximo está localizado o teto máximo do estado de Pernambuco, com 1.195 m de altitude, localmente conhecido como Serra do Ponto (Alecrim, Elísio, 2003)

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