terça-feira, 19 de novembro de 2013

Memorial de Doutoramento em Geografia



O DOSSIÊ DE UMA DOCÊNCIA E PESQUISA AO ESTUDO DO PARQUE   NACIONAL DO CATIMBAU- BUIQUE -PE          


                                            (Memorial de doutorado)

A docência
Apesar de tardia sua formação em 1986 na Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde - AESA, sua vida se traz em uma rica história de coincidência de inclinação com a essa ciência, a qual aprendeu a se dedicar. Pode-se dizer que, poucas foram às vezes que trabalhou em atividades não ligadas à Geografia. No entanto, nunca imaginou que o Catimbau concomitantemente com Geografia, iria fazer parte de sua vida, e muito menos que isso o conduziria ao Magistério, Mestrado e Doutorado nesta ciência.
Nascido em Arcoverde, é filho de um cabeleleiro e de uma costureira. Cresceu no sertão, conhecedor do vale do Moxotó e dos açudes de sua bacia, do Catimbau, de Buique, das Serras das Varas, dentre outros. Compreender a Caatinga, os fenômenos das secas, dos solos poucas vezes embebidos de chuvas e ressecados pelo sol, sempre lhe aguçaram a curiosidade. Sua juventude vai ser vivida como que um romance de longas aventuras, nas águas do riacho do Mel que contorna o Vale do Catimbau, do Açude de Poço da Cruz, e das terras verdes do brejo do Catimbau.
Mas foi das terras cinzentas do agreste meridional que seu pai e sua mãe nasceram. O pai, um retirante que saiu do agreste afugentado pela seca de 1928, e que veio fixar morada em Arcoverde. Embora vivesse sob as condições mais adversas, era dotado de um grande senso de curiosidade. Gostava de ler e falar sobre fenômenos astronômicos e das forças telúricas. Foi do pai que recebeu o primeiro livro de Geografia e o primeiro telescópio.
Na década de 70, inicia seus estudou em dois colégios tradicionais de Arcoverde. No primeiro, Colégio Carlos Rios, não se adapta a rígida disciplina militar e tornou-se um aluno complacente. Mas em meio às tormentas da juventude conhece as aulas de Geografia da Professora Maria Ozita, que torna marcante seu interesse por essa ciência, e isso deixaria nuances em parte de sua vida. No segundo, o colégio Onze de Setembro fugia da escola para ir jogar bola, mas o zelo pelas aulas de Geografia continuou, o que se atribui ao excelente professor de Geografia o Professor Cristalino Wanderlei, mas o interesse geral por estudos veio graças à influência do educador Pastor Israel Dourado Guerra, o qual se pode afirmar como uma das figuras humana que mais influenciou em sua vida.
            A prática da docência ocorreu em 1987, quando veio a ensinar Geografia, coincidentemente no colégio que vivenciou parte de sua vida estudantil. Assim, o Colégio Onze de Setembro vai se tornar palco de suas primeiras aulas de Geografia e História, condição que perdurará até 1988. É nesse mesmo ano que é convidado para ensinar no Colégio Rio Branco, e nesse se revelaria a Arcoverde como professor de Geografia, História e Filosofia. Nessa condição permanece até 1990. Na mesma década inicia uma série de excursões ao antigo Vale do Catimbau e começa a coletar artigos e reportagens.
            Em 1989, como sina de muitos nordestinos, migra para o Rio de Janeiro e passa a residir nas Laranjeiras, bairro de classe média alta e reduto boêmio de artistas e intelectuais da sociedade carioca. É um período que o destino lhe reserva algo surpreendente com a Geografia, a convivência um amigo lhe põe de frente com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesta oportunidade assiste palestras de Roberto Lobato Corrêa e, Iná Elias de Castro.
            Ainda no Rio de Janeiro, cursa Hotelaria e Turismo pelo SENAC, e participa da primeira CONFERÊNCIA MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE, conhecida como ECO-92. Na ocasião participa como recepcionista em Rio das Pedras-RJ, um dos locais mais importantes da conferência. Tem a oportunidade de presenciar o início do maior evento eco-ambiental do planeta.
            Em 1995, devido à grave crise econômica vivenciada no país e, as dificuldades para conseguir emprego, regressa a Arcoverde. No mesmo ano é aprovado por concurso público ao cargo de professor de Geografia da Prefeitura Municipal de Garanhuns, obtendo o 2º lugar com nota 8,70, mas não assume. É nesse mesmo ano se licencia da carreira de professor e ingressa no serviço publico. Nomeado na ocasião pelo Governador Miguel Arraes, assume o cargo de Fiel-Gerente da CAGEPE na unidade armazenadora de Inajá– PE. Essa será a única etapa de sua vida sua unica ligação com a Geografia aparecerá de forma esporádica como professor substituto da Professora Eunilia Ferraz do Colégio Imaculada Conceição.
Em l998, retorna a Arcoverde, e reinicia a docência em um colégio das irmãs vicentinas, o então Colégio Imaculada Conceição de Arcoverde. Em 1999 é convidado para ensinar no Colégio Diocesano de Arcoverde, na época o melhor colégio do interior. No mesmo ano ingressa no curso de Pós-Graduação na Faculdade de Formação de Professores de Garanhuns, FFPG-UPE, onde cola grau em PROGRAMAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR DE GEOGRAFIA, obtendo notas que variam entre 7,0.e 9,55. Na oportunidade, conhece um marcante professor de Geografia, o Mestre Carlos Cruz Ubirajara, que lhe orienta sobre as bases do pensamento filosófico e metodológico da Geografia. Na ocasião defende um projeto de conclusão sobre a importância da preservação do Vale do Catimbau e sua importância geológica e arqueológica para cultura e turismo do povo de Buique –PE.
Nesse período a relação com o Parque Nacional do Catimbau se restringirá a contemplação de suas belezas e lutas pela preservação. Nessa condição começa ser convidado para palestra em colégios, câmaras de vereadores, organizar excursões, etc. Inicia um árduo trabalho de pesquisa para  recolher material sobre o Vale do Catimbau, mais tarde serviram para elaboração de suas pesquisas. Nesse ínterim, se surpreende com a inexistência de trabalhos acerca de impactos ambientais nessa área.
Nota claramente no meio cientifico uma lacuna do tema, assim, se inicia a busca em saber as razões ocultas que determinaram esta quase abstenção do tema entre os acadêmicos. Antes de conhecer as razões cientificas da origem física e cultual do Catimbau, transitava dos estudos científicos para mitos sem muitos cuidados ou critérios. De um lado havia a influência dos importantes escritos científicos do pesquisador e cientista Marcos de Albuquerque da UFPE dos anos 70-80, e do outro o que eu nunca quis se desprender, os mitos e a devoção a tênue cultura local.
O lado do mítico do Catimbau lhe fascinara, juntamente com sua leitura de Catimbau como algo misterioso, mesmo entendo a importância de suas histórias, seus ricos nichos arqueológicos, lugar dos últimos índios Kapinwás, que hoje encontra-se preservada como cultura indígena do nordeste do Brasil. Admirara os seus rituais, sua cultura, e observava atentamente as conversas sobre comunicações com espíritos de encantadores, com poltergeists, e as supostas observações e registros de OVNI, que retratam uma relação com uma “civilização” misteriosa e subterrânea, esses enigmas fascinavam sua mente em relação à remota e rica região.
Na verdade se sabe que o Vale do Catimbau é rico em pinturas rupestres da tradição nordeste e possui diversas curiosidades, como por exemplo, valia ouvir as lendas da Seita dos Imortais da fazenda Porto Seguro, residencia do líder já falecido dessa comunidade, o Sadadi Alexandre de Farias, conhecido como Meu Rei, e sua lendária crença, que afirmava que desde 2004 a Terra entraria em processo de purificação, e tudo que desagrada a Deus seria destruído. Por fim, os espíritos de luz reencarnariam em outro planeta.


A docência no Ensino Superior


Em 1999, se inicia no ensino superior, após submeter-se a concurso para professor na Faculdade de Formação de Professores de Belo Jardim-FABEJA, vindo a ser aprovado em 1º lugar, com nota 8,86. Toma posse no mesmo ano, assumindo as disciplinas de Geografia Física, Geologia, Geografia da População, Geomorfologia e Climatologia. Nesse período começa uma ampla divulgação das obras de Milton Santos, Aziz AB’Saber, João José Bigarella, Salgado-Laboriau, e de modo especial destaca os grandes nomes da Escola de Geografia de Pernambuco: Raquel de Caldas, Gilberto Osório, Manoel Correia de Andrade, Lucivânio Jatobá, entre outros. É nesse importante inicio de carreira profissional em que seu nome e a Geografia começam a se vinculado ao do Parque Nacional do Catimbau. Naquele mesm ano torna-se membro da AGB- Associação dos Geógrafos Brasileiros.
Em 2000, após cumprimento das exigências de formação constada no cronograma estabelecido para formação de pós-graduados em ensino superior da Geografia da UPE, retorna a FABEJA. Nesse mesmo ano, que surge uma oportunidade de nova seleção, desta vez para um curso preparatório para mestrado realizado pela ASSIESPE.
O curso seria ministrado no CEVASF – Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco-UFPE e a Associação das Instituições do Ensino superior de Pernambuco - ASSIESPE, evento que ocorreria no período de 20 de novembro de 2000 a janeiro de 2001, com quatro módulos e carga horária de 160h/a. Participam todos os professores de Geografia das faculdades do interior, totalizando cerca de 40 professores de Geografia. Nesse curso criou-se oportunidade de contato com os acadêmicos da escola da Geografia da UFPE, onde foi possível se conhecer grandes geógrafos de pernambucanos, a saber: Nilson Crócia, Cláudio Castilho, Raquel Caldas, Alcindo José de Sá, e Jan Bitoun. Essa convivência estabeleceu uma rota de colisão entre o pensamento místico e o cientifico.
O seu primeiro contado com a Biogeografia vem ocorrer no mesmo curso com a Professora Doutora Eugênia Pereira. Como se sabe essa é uma disciplina da Geografia para a qual convergem e contribuem diversas outras disciplinas das ciências naturais e humanas. Ao trabalhar o brejo, degradação ambiental, fragmentação, efeito de borda, propõe-se apreender a realidade, através da dualidade espacial, no seu aspecto físico e humano.
Foi nesse curso que veio ocorrer uma maturação acadêmica, de fato, em prol de um estudo com foco menos mítico e mais cientifico. Mas a mudança decisiva seria o contato com as aulas da Professora Dra. Eugênia Pereira, que com sua influência discreta, mas no fundo decisiva, essa mestra insuperável, possuidora de uma penetração psicológica que lhe daria um domínio tranqüilo sobre o meu comportamento inquieto de místico pesquisador. Pedagoga de mão cheia, profunda conhecedora da alma, não pretendeu dominar o orientando, mas quebrando o seu ímpeto místico e fantasioso, acabou por captar seus interesses e, desviou sua inquietação para objetivos mais nobres e científicos.
Assim, em um encontro inusitado de uma apresentação de trabalho de conclusão da disciplina Biogeografia em Belém de São Francisco ocorre um fato inusitado. A professora direciona uma pesquisa que levaria fazer uma exposição em mapa sobre a origem dos brejos pernambucanos. Nesse ínterim se depara com temas como: a Teoria de Refúgios e Redutos de Aziz Ab’Saber, fragmentação de sistemas naturais, recuo de matas, e fenômenos sobre a distribuição de áreas úmidas sobre o sertão, temas que o fascinou, concretizando a partir daí uma grande relação com o objeto de estudo (Brejo do Catimbau), e com a doutora Eugênia Pereira. Assim, favorecido pela curiosa apresentação da doutora que motiva-o e o orienta-o a seguir com a idéia, inicia-se assim sua busca pelo mestrado na UFPE.
Pode-se considerar também, como outro elemento desencadeador das pesquisas, o fator geográfico. Residir próximo ao objeto de estudo, Buique, foi uma das condições fundamentais para compor um cenário que possibilitou conhecer mais de perto a realidade do semi-árido, sobretudo, os municípios integrantes da Microrregião do Sertão do Moxotó: Ibimirim, Tupanatinga, Arcoverde, Cruzeiro do Nordeste, entre outros, onde se situa parte significativa da Bacia do Jatobá, e onde se insere o Vale do Catimbau.
Em 2001, visando preparo para o processo seletivo de mestrado da UFPE, inicia sua participação em diversos congressos e simpósios. Destaca-se entre eles, a participação no IX Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, promovido pela Universidade Federal de Pernambuco no mês de novembro, onde faz curso sobre meio ambiente urbano com o Dr. Jan Bitoun e o Dr.Leonardo José Cordeiro dos Santos. Outra participação significativa que deu importantes subsídios para aprovação do mestrado, veio do conhecimento obtidos no XIII Encontro Nacional de Geógrafos na UFPB, ocasião marcada pela presença e realização de diversos mini-cursos.

O Mestrado 

Em 2002 vários professores viajam a Recife para participar do processo seletivo para o mestrado da UFPE em Geografia, e nesse ínterim consegue sua aprovação. Na época faz opção pelo Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais, atual PRODEMA e o projeto selecionado denominava-se: IMPACTOS AMBIENTAIS NO PARQUE NACIONAL DO CATIMBAU.Este projeto torna-se um interesse crescente, e a partir daí se iniciam os primeiros passos visando compreender o objeto de estudo, as teorias: da Pediplanação de João José de Bigarella, e a do Refúgio Ecológico de Aiz Ab Saber, que forneceram as bases iniciais necessárias e aguçavam ainda mais a curiosidade acerca das formas de analisar o espaço presente, levando-se em conta as heranças paleoambientais. Embasado por estas teorias lançava-se mão de metodologias integradas para a compreensão das variáveis de estudo.
            As metodologias, embora diretamente voltadas para o estudo de impactos ambientais, permitiam conhecer os impactos causados por estradas e conseqüente efeito de borda, fragmentação do parque e suas implicações sobre a vegetação de Caatinga, idéias que mais tarde subsidiaram o projeto de doutorado. Seguia-se, então, o levantamento dos dados do meio físico, confecção de mapas, e localização dos pontos mais impactados. Assim, acompanhados pelo orientadora Eugênia Pereira. Finalmente, definiu seu ponto focal de estudo de mestrado, a definição da zona de amortecimento (ZA) do Parque Nacional do Catimbau (PNC), inexistente nos documentos de sua criação e, necessário à proteção de uma Unidade de Conservação. Nessa ZA definida, identificou os diversos impactos gerados pelos habitantes da região, além de apontar incongruências nos limites definidos e potencial turístico do PNC.
Em 2003, após a aprovação no mestrado para a turma de 2004, começa a ser convidado para ministrar palestra em congresso. Trata-se de um período muito importante, uma vez que permitiu expor apresentar suas primeiras idéias. Participou no Educação I e II CONGRESSO INTERESTADUAL DA EDUCAÇÃO -CESA, expondo sobre os impactos ambientais na Bacia hidrográfica do Moxotó e sua relação com o Vale do Catimbau.
No mesmo ano, assume o cargo de adjunto de DEPTO DE GEOGRAFIA–FABEJA em BELO JARDIM e participa do I SIMPÓSIO DE GEOGRAFIA em mesa redonda com o Geógrafo da USP professor  Dr.WILLIAM VESENTINI, que posteriormente conhece o projeto sobre o Vale do Catimbau.
Em 2006 defende seu mestrado, com dissertação intitulada POTENCIALIDADES E IMPACTOS AMBIENTAIS NO PARQUE NACIONAL DO VALE DO CATIMBAU sob orientação da Dr. Eugênia Pereira da UFPE. Parte da dissertação foi publicada como capítulo do livro Turismo e Práticas Socioespaciais: Múltiplas Abordagens e Interdisciplinaridades, com o título: Potencialidades Turísticas e Riscos Ambientais no Parque Nacional do Catimbau, organizado pelo Prof. Dr. Cláudio Castilho da UFPE e impresso pela Editora Universitária da mesma instituição.
Em 2007 volta a UFPE e participa do I Simpósio de Ciências da Terra. Na oportunidade faz um curso sobre rochas e minerais com o Doutor Gorki Mariano realizado no Departamento de Geologia.
No mesmo ano, atuando na FABEJA, torna-se Professor Adjunto do Departamento de Geografia, onde o governo do Estado de Pernambuco cria o Projeto Alvorada, cuja meta era capacitar, através da pós–graduação, todos os professores de Geografia da rede estadual. Esse projeto, com licitação vencida pela FABEJA, ficou sob coordenação do Mestre. Carlos Cruz Ubirajara da UPE. Este, na ocasião, recomenda que o comando o pólo de Petrolina, seja direcionado a minha pessoa, ocupando assim a responsabilidade de chefia e ensino das disciplinas de Fundamentos Teóricos Metodológico da Geografia. Nessa condição, leciona no pólo de Caruaru, Petrolina e Recife.
Em 2008 é nomeado coordenador do Curso de Geografia da FABEJA onde se dedica ao ensino, pesquisa, orientação e excursões didáticas, lecionando GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA, GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO, CLIMATOLOGIA, HIDROGEOGRAFIA, e FUNDAMENTOS TEORICOS METODOLOGICOS DA GEOGRAFIA. No mesmo ano é convidado pelo Prof. MS. Carlos Ubirajara, para palestra sobre o Efeito Estrada no Parque Nacional do Catimbau na Universidade de Pernambuco na Unidade de Garanhuns.
Em 2009 participa do Concurso da Escola Agrotécnica Federal de Belo Jardim e obtém na primeira fase o 1º lugar com nota 9,33, onde leciona Geografia. Atualmente como professor em Belo Jardim, ministra palestra em cursinho preparatório para concursos. Participa da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Pernambuco, onde prefere palestra no Instituto Federal de Pernambuco- IFPE. Ainda no mesmo ano é convidado pela AESA (onde se formou) para proferir palestra sobre a sobre a importância da Geografia no século XXI.
Os feitos em prol da educação repercutem em Belo Jardim, Petrolina, Caruaru e Recife; some-se a esse fato o conseqüente crescimento do curso de Geografia da FABEJA, as conquistas do Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais (UFPE), da aprovação no doutorado (UFPE), as vitórias da licitação do Projeto Alvorada e, por fim, a importante classificação em primeiro lugar na Escola Agro-técnica Federal, tiveram grande repercussão no meio político e educacional do município de Belo Jardim. Essas conquistas passam ser conhecidas pela sociedade, e principalmente no âmbito político, especificamente na Câmara de Vereadores.
Em resposta o vereador Euno de Andrade da Silva Filho encaminha projeto de concessão do título de Cidadão Belo Jardinense pelos relevantes serviços prestados ao curso de Geografia da Faculdade de Belo Jardm- FABEJA. Em junho de 2008 a câmara acata a solicitação, que foi aprovada por unanimidade.No mesmo ano tem importantes participações na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, onde apresenta parte de suas pesquisas sobre a fragmentação e efeito de borda no Parque Nacional do Catimbau.

O doutorado 

Quanto ao doutorado, o ingresso se deu ano 2006, quando de sua aprovação no curso de DOUTORADO EM GEOGRAFIA da Universidade Federal de Pernambuco, ocasião obteve a sexta posição entre os candidatos, com o projeto na área da Biogeografia, sob orientação da Dra. Eugênia Pereira e co-orientado pelo Dr. Fernando de Oliveira Mota Filho. O tema se situa especificamente com eixo temático na Ecologia da Paisagem, centrado no sub-tópico Estrutura de Paisagem. Um tema principal derivou das idéias de Forman e Godron, autores das obras clássicas “Patches and Structural Components for a Landascape Ecology” (Forman e Godron, 1981) e “Landscape Ecology” (Forman e Godron, 1986). Essas obras dão suportes conceituais teóricos que alimentam a querela sobre o funcionamento da paisagem e tema de estudo.
Em geral esse tipo de estudo requer uma pesquisa bibliográfica ampla para situar o estágio atual do discurso. É um tema de análise do mosaico da paisagem, e segue a tradição conceitual conforme disponibiliza a literatura, que tradicionalmente tem a seguinte estrutura conceitual: a) elementos de um ecossistema que são: a estrutura, a função e a alteração. A função diz respeito à interação entre os elementos espaciais, isto é, o fluxo de energia, materiais e espécies entre os componentes ecossistêmicos. A alteração que reflete as mudanças na estrutura e na função do mosaico ecológico (Turner e Gardner, 1991). Essa pesquisa teve seu foco situado nos componentes da estrutura e se refere às relações espaciais entre os corredores e a matriz.
            O um dos pontos de partida do projeto, advindo da fase de leitura bibliográfica, consiste em dar nova roupagem, visando facilitar a interpretação e entendimento da literatura. Essa condição adveio das dúbias interpretações presentes nos aspectos conceituais, o que não veio a invalidar os mesmos. Assim, este documento é apresentado no seu âmbito conceitual. Os corredores segundo Matteucci (1998); Burel e Baudry (2002) consistem na rede de ligação que conectam as manchas com a matriz, representados por um sistema viário (estradas e trilhas), rede de drenagem (córregos e canais), compondo um conjunto espacial de manchas e de redes constituindo um padrão paisagístico, que possibilita a conectividade entre os organismos existentes.
Quanto a esses aspectos conceituais, essa pesquisa mostra parte da forma como os conceitos “corredor” vêm sendo aplicados. Discutiu a generalização do termo “corredor” quando aplicada aos objetos antrópicos, como é caso de estradas, e a elementos da natureza, a exemplo de rios, córregos, etc.. Percebeu-se que sua interpretação poderia escamotear a elucidação dos impactos ambientais que uma estrada pode causar. Daí resulta a crítica ao termo, e buscando-se nos postulados de Diamond (1975), a quem se atribui estudo do efeito borda e fragmentação em unidades de proteção, quando asseverou: “as reservas não deviam ser subdivididas em partes, principalmente por estradas, pois estas podem se constituir em barreiras”.
Mais a idéia central que serviu de eixo advém da leitura do importante artigo de Santos & Tabarelli(2002) denominado Distance From Roads and City as Predictor of Habitats Loss and Fragmentation in The Caatinga of Brazil. Nesse artigo os autores elucidam que a inserção de “corredores” (as estradas e as rodovias) teria induzido a fragmentação da Caatinga. Essa idéia foi transposta para o estudo do Parque Nacional do Catimbau. Assim, com base em tais postulados, se percebeu que havia possibilidades de que tal fato estivesse ocorrendo nos parques nacionais do Brasil.
Procedeu-se então um longo levantamento das reais condições do parque em relação a inserção das estradas no seu interior, em sua zona de amortecimento, ou como limite do seu perímetro, tendo como elemento balizador o Parque Nacional do Catimbau. Embora a Sociedade Nordestina de Ecologia quando da elaboração do seu projeto de criação tenha justificado o uso “corredores” (estradas, rodovias e pontes, de rios, entre outros), sob a alegação de “facilitar a identificação dos limites no campo (S.N.E., 2002), essa posição confrontou-se com as posições teóricas estabelecidas.
No caso especifico do PNC a inserção de “corredores” (estradas) evidenciou sua relação direta com os impactos ambientais identificados por RODRIGUES (2006). Nos últimos anos, os impactos causados à fauna por atropelamentos nas estradas e rodovias passou a receber a atenção de pesquisadores em vários países, principalmente nos E.U.A. No Brasil, a preocupação foi posterior e  recente e, quase sempre associada às áreas de interesse de preservação. São diversas as citações considerando os aspectos negativos das estradas, como as encontradas em Conde & Bergallo (2001), Dias (2004), dentre outros. Por fim, o projeto trabalhou com a hipótese de que a inserção de estradas ou rodovias seja no interior das Unidades de Conservação, ou como seus limites constituem uma prática inadequada para sua preservação.
Entretanto, a confirmação dessa idéia dependeu de muito trabalho de campo. Com esse objetivo, os estudos de sensoriamento remoto foram fundamentais, principalmente o uso da banda 3 do NDVI, usada para detectar a presença de excesso hídrico em borda das estradas, para que se pudesse considerar o fato como efeito estrada. As bases do questionamento conceitual denominando estradas e linhas de transmissão, oleodutos como barreiras (classificação dinâmica) e não como corredores (classificação técnica tradicional) foram embasados em Sobrinho (1975), Diamond (1975), Dias (2002), que apontam os efeitos negativos provocados por uma estrada, considerando-a como barreiras.
De posse dessa idéia, maturou-se a necessidade de expressar idéia representar a condição de inserção de estrada e suas conseqüências ambientais negativas. Essa lacuna era bem evidente na literatura. Com essa clareza, surge então a idéia da construção conceitual do efeito estrada, e elaboração de um modelo que retrate em que condição vem ocorrer, e como acontece na prática. Dessa forma, se consolidou uma tese de doutorado para posterior defesa.
Em 2010, participa do VI SEMINÁRIO LATINO AMERICANO  e II SEMINÁRIO IBERO-AMERICANO de Geografia Fisica –Sustentabilidade da “GAIA”; Ambiente, Ordenamento e Desenvolvimento, na Universidade de Coimbra –Portugal.   
Por fim, esse memorial é um retrato de um professor, onde cada etapa de sua vida tem sido entrelaçada de dedicação à Ciência Geográfica e à satisfação da carreira profissional, mas que ainda teve um orgulho que foi o de  pertencer a essa grande escola da Geografia pernambucana que é a UFPE.

           

 Recife, 12/12/2010.
Natalicio de Melo Rodrigues

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O Manifesto da Geografia - Milton Santos




O Manifesto
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O PAPEL ATIVO DA GEOGRAFIA
UM MANIFESTO
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Milton Santos*

The active role of Geography: A Manifesto
Abstract
The active role of Geography in Academia, in Planning and as a tool for building up citizenship are discussed in this Manifesto. Considering space as the central scientific category of the discipline, the author proposes that one should view it as 'used territory ', a conception which encompasses both the active role of space as actor and its role as the object of action. It is only through the adoption ' such a perspective that geographers will effectively address the significant questions which face society today.

Resumo
O papel ativo da Geografia na Academia, em Planejamento e como um instrumento de construção de cidadania são discutidos neste Manifesto. Considerando o espaço como a categoria científico central da disciplina, o autor propõe que se deve vê-lo como "território usado", um conceito que engloba tanto o papel ativo do espaço como ator e seu papel como o objeto da ação. É somente através da adoção "como uma perspectiva que geógrafos efetivamente abordar as questões importantes que enfrentam a sociedade de hoje.




1
O papel atribuído à geografia e a possibilidade de uma intervenção válida dos geógrafos no processo de transformação da sociedade são interdependentes e decorrem da maneira como conceituamos a disciplina e seu objeto.

Se tal conceituação não é abrangente de todas as formas de relação da sociedade com seu meio, as intervenções serão apenas parciais ou funcionais, e sua eficácia será limitada no tempo.

É verdade que, na linguagem comum e no entendimento de outros especialistas, assim como de políticos e administradores, a geografia é frequentemente considerada como a disciplina que se preocupa com localizações. Aliás, um bom número de geógrafos trabalha com essa visão.

A geografia considerada como disciplina das localizações, posição aceita durante largo tempo, mostra-se todavia limitante do rol de relações que se dão entre o homem e o meio e, por essa razão, revela-se insuficiente.

Mas esse não é o único enfoque simplificador e deformador.
2
Foi por isso que propusemos considerar o espaço geográfico não como sinônimo de território, mas como território usado: e este é tanto o resultado do processo histórico quanto a base material e social das novas ações humanas. Tal ponto de vista permite uma consideração abrangente da totalidade das causas e dos efeitos do processo sócio territorial.

Essa discussão deve estar centrada sobre o objeto da disciplina - o espaço geográfico, o território usado - se nosso intuito for construir, a um só tempo uma teoria social e propostas de intervenção que sejam totalizadoras. Entre os geógrafos, incluindo aqueles convidados para trabalhar com toda sorte de questões voltadas ao planeamento, o problema do espaço geográfico como ente dinamizador da sociedade é raramente levado em consideração. Ora, se as bases do edifício epistemológico são frouxas, as práticas políticas almejadas serão, no mínimo, enviesadas.

A compreensão do espaço geográfico como sinônimo de espaço banal obriga-nos a levar em conta todos os elementos e a perceber a inter-relação entre os fenômenos. Uma perspectiva do território usado conduz à idéia de espaço banal, o espaço de todos,  todo o espaço. Trata-se do espaço de todos os homens, não importa suas diferenças; o espaço de todas as instituições, não importa a sua força; o espaço de todas as empresas, não importa o seu poder. Esse é o espaço de todas as dimensões do acontecer, de todas as determinações da totalidade social. É uma visão que incorpora o movimento do todo, permitindo enfrentar corretamente a tarefa de análise. 

Com as noções de território usado e de espaço banal, saltam aos olhos os temas que o real nos impõe como objeto de pesquisa e de intervenção. Mas tal constatação não é suficiente. É indispensável afinar os conceitos que tornem operacionais o nosso enfoque. A riqueza da geografia como província do saber reside justamente no fato de que podemos pensar, a um só tempo os objetos (a materialidade) e as ações (a sociedade) e os mútuos condicionamentos entretecidos com o movimento da história. As demais ciências humanas não dominam esse rico veio epistemológico.

território usado constitui-se como um todo complexo onde se tece uma trama de relações complementares e conflitantes. Daí o vigor do conceito, convidando a pensar processualmente as relações estabelecidas entre o lugar, a formação sócia espacial e o mundo.

3
Cada vez que, em lugar de considerar o movimento comum da sociedade como um todo e do território como um todo, partimos de um dos seus aspectos, acabamos encontrando lineamentos que apenas são aplicáveis a uma determinada área de atuação - uma instância da vida social -, sem, todavia autorizar uma intervenção realmente eficaz para o conjunto da sociedade. Em outras palavras, tais soluções são ocasionais, mas não duradouros remédios parciais, mas não globais.

Qualquer proposta de análise e interpretação que pretenda inspirar ou guiar uma intervenção endereçada ao conjunto da sociedade não pode prescindir, então, de uma visão desse todo. Incapazes de gerar mudanças que englobem a totalidade do território e da sociedade, as intervenções parciais atendem a interesses particulares ou apresentam resultados efêmeros e inoperantes.

Uma posição parcial da geografia frente ao seu objeto encontra abrigo nas fragmentações e dicotomias presentes em seu próprio seio, o que a torna teoricamente frágil. Conhecimentos operatórios e parcelares podem tornar-se entraves ao desenvolvimento da disciplina e de seu papel como ramo do conhecimento, particularmente quando parecem tomar o lugar da geografia ou justificar autonomamente sua existência.

4
Por vezes é a própria formação do geógrafo que se torna um convite à fragmentação do conhecimento e do trabalho.

Quando se toma apenas urna parte do corpus da disciplina e assim mesmo o trabalho se torna exitoso, há nas pessoas um reforço à crença numa disciplina parcializada. É comum a opinião de que propor intervenções é possível àqueles enfoques fundados em visões parciais, ainda que essas intervenções amiúde sejam funcionais à política das grandes empresas. Será esse o êxito que buscamos?

No ensino da geografia é menos frequente do que seria desejável a consideração da totalidade do conhecimento geográfico. A geografia é quase sempre apresentada ao estudante, desde o primeiro momento, de forma segmentada dificultando a apreensão de uma abordagem essencialmente geográfica e comprometendo a formação do profissional e o futuro da própria disciplina. Como resultado, muitas vezes o geógrafo especializa-se em um ramo operacional voltado ao restrito mercado de trabalho.

Acreditamos poder escapar à "parcialização" da disciplina (e, destarte, das intervenções a partir dela), com a busca firme e continuada de uma ontologia do espaço geográfico. Esta busca pode ser entendida como a construção de um conjunto de proposições epistemológicas que, formando um sistema lógico coerente, e sendo fundada nos avanços metodológicos já conseguidos pela disciplina no século XX, aprimoraria o que se pode chamar de "núcleo duro" da geografia, desembocando, necessariamente numa visão geográfica totalizadora.

Conseguiríamos, desse modo, um rechaço à "indolência epistemológica" (situação que, aliás, não é só brasileira) na produção do conhecimento geográfico.
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O espaço é frequentemente considerado como espaço político, espaço econômico, espaço antropológico, espaço turístico. E esse é um grande problema para a disciplina.

Fragmentada, a geografia não oferece uma explicação do mundo e, portanto passa a precisar cada vez mais, de adjetivos que expliquem a sua finalidade. Ela perde substância e corre sérios riscos de não ser mais necessária nos currículos escolares. Tal fragmentação é decorrente, de um lado, da crescente impossibilidade, socialmente gestada, de percebermos que todos os elementos agem conjuntamente (e separações podem ser feitas apenas para fins analíticos). Soma-se a isto a consagração da fragmentação no ensino em todos os planos (nas aulas, nos livros, nas grades curriculares). A situação é agravada, ainda, quando no ensino superior - público e privado - adota-se uma especialização cujo fim é atender a uma certa política e ao mercado.

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Tanto o mercado como a política às vezes inspiram soluções desse tipo. Não será o caso de certas propostas fundadas, por exemplo, nas geografias do turismo, do meio ambiente, da cultura, dos SIG's, ou de sugestões ditas de planejamento regional, mas que, na verdade, beneficiam uma ou poucas atividades em um dado momento?

Não é demais assimilar estas proposições a uma fragmentação da disciplina geográfica em outras tantas geografias, que desejam, na prática, imporem-se como autônomas, quando seu papel auxiliar apenas as qualifica como ramos operacionais de uma geografia mais complexa e unitária. Esta parece mais possível de alcançar através de uma perspectiva do território usado, uma vez que estamos levando em conta todos os atores.

Buscando atender às exigências na formação de profissionais para o mercado de trabalho, cursos de graduação têm privilegiado a especialização do saber em detrimento do conhecimento abrangente, afastando o profissional do cidadão. Por outro lado, políticas restritivas de financiamento provocam um distanciamento entre as várias áreas do saber, privilegiando-se àquelas que possibilitam investigações aplicadas, consideradas da maior relevância econômica ou política.

Nesse contexto muitos geógrafos procuraram adaptar-se às novas exigências por meio de saídas particularistas no ensino e na pesquisa, enfatizando aspectos da realidade social como se fossem a totalidade do fenômeno geográfico. Em nome de uma modernização utilitária e produtivista, certos cursos de geografia correm o risco de jogar fora princípios que deveriam balizar e singularizar esta área do saber.

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Na evolução do pensamento geográfico, a vontade de totalização e a formulação dos respectivos enfoques têm sido presentes, ainda que contrariadas sempre por uma tendência à segmentação.

Vejamos um exemplo. Na época de Vidal de la Blache, a possibilidade de totalização às vezes concretizada com a ajuda da política de um Estado necessitado de um conhecimento geográfico, não sofria as investidas do mercado tal como as conhecemos hoje. Desse modo opunha-se um dique à fragmentação do saber geográfico e das suas propostas de ação.

Enfoques totalizadores tendem a buscar uma correspondência à unidade do mundo real. Todavia, no caso particular da geografia, essa ideia de unidade da Terra é contraposta por aqueles que se apoiam em realidades parciais para fundamentar argumentações também parciais ou redutoras. Assim, a geografia foi se firmando ao longo de sua história à base desse confronto entre duas vocações bem distintas. No plano do conhecimento ou das propostas de ação, a verdade teria sido tomada por diversas formas de engano.

E hoje? Quando a própria globalização é vista como um resultado da vontade de integrar mercados segundo um discurso único, ela não permite o reencontro de enfoques mais abrangentes.

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O problema central é como utilizar os conhecimentos sistematizados por uma disciplina no delineamento de soluções práticas e caminhos frente aos problemas concretos da sociedade. Dependendo das filiações teórico-ideológicas dos autores, isso parece ter sido possível aos especialistas da ciência política, da economia etc., cuja tarefa ultrapassa, sem maiores dificuldades, o limite da simples interpretação dos fenômenos para sugerir mudanças, isto é, para se erigir como uma política.

Quando o esquema interpretativo da sociedade próprio à nossa província do saber dá conta da realidade concreta em sua totalidade ele pode ser o fundamento da construção de um discurso novo para a ação política dos atores sociais responsáveis por sua prática, tais como partidos políticos, movimentos sociais, instituições etc. Um discurso socialmente eficaz pode ser o conteúdo, a base de intervenções "sistêmicas" na sociedade, em diferentes níveis do exercício da política, entre os quais, o mais abrangente seria a contribuição para a elaboração de um projeto nacional, comprometido com a transformação da sociedade em benefício da maioria da população do país.

A ideia de intervenção supõe um interesse político, entendido como interpretação histórica mais ampla, que implica um ideal de futuro como espaço de resolução de problemas supostamente arraigados nas sociedades.

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Não se trata de impor uma definição única. O conteúdo de uma geografia compreensiva pode certamente responder a uma entre várias linhas teóricas, segundo a escolha do autor. Mas, a partir daí, é indispensável dispor de um conjunto coerente de proposições, onde todos os elementos em jogo sejam considerados em sua integração e em seu dinamismo.

A geografia deve estar atenta para analisar a realidade social total a partir de sua dinâmica territorial, sendo esta proposta um ponto de partida para a disciplina, possível a partir da um sistema de conceitos que permita compreender indissociavelmente objetos e ações.

território usado, visto como uma totalidade, é um campo privilegiado para a análise na medida em que, de um lado, nos revela a estrutura global da sociedade e, de outro lado, a própria complexidade do seu uso.

Para os atores hegemônicos o território usado é um recurso, garantia da realização de seus interesses particulares. Desse modo, o rebatimento de suas ações conduz a uma constante adaptação de seu uso, com adição de uma mantenalidade funcional ao exercício das atividades exógenas ao lugar, aprofundando a divisão social e territorial do trabalho, mediante a seletividade dos investimentos econômicos que gera um uso corporativo do território. Por outro lado, as situações resultantes nos possibilitam a cada momento, entender que se faz mister considerar o comportamento de todos os homens, instituições, capitais e firmas.

Os distintos atores não possuem o mesmo poder de comando levando a uma multiplicidade de ações fruto do convívio dos atores hegemônicos com os hegemonizados. Dessa combinação temos o arranjo singular dos lugares.

Os atores hegemonizados têm o território como um abrigo, buscando constantemente se adaptar ao meio geográfico local, ao mesmo tempo em que recriam estratégias que garantam sua sobrevivência nos lugares. É neste jogo dialético que podemos recuperar a totalidade.

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Somente assim responderemos à questão crucial de saber como e porque se dão as relações entre a sociedade como ator e o território como agido e, ao contrário, entre o território como ator e a sociedade como objeto da ação. É essa, a nosso ver, a maneira de encontrar um enfoque totalizador, que autorize uma intervenção interessando à maior parte da população. 




1. Apresentado pelo grupo Estudos Territorais Brasileiros, do Laboplan (Laboratório de Geografia Política e Planejamento Territorial e Ambiental) do Departamento de Geografia - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) no XI Encontro Nacional de Geógrafos. Florianópolis, Brasil, Julho de 2000.
2.* Colaboradores: Adriana Bernardes, Adriano Zerbini, Cilene Gomes, Edison Bicudo, Eliza Almeida, Fabio Betioli Contel, Flávia Grimm, Gustavo Nobre, Lídia Antongiovanni, Maíra Bueno Pinheiro, Marcos Xavier, María Laura Silveira, Marina Montenegro, Marisa Ferreira da Rocha, Milton Santos, Mónica Arroyo, Paula Borin, Soraia Ramos, Vanir de Lima Belo.
Revista Território, Rio de Janeiro, ano V, nº 9, pp. 103-109, jul. dez., 2000
Estudos Territoriais Brasileiros – Laboplan  Departamento de Geografia  Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Uni versidade de São Paulo



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