POLÍTICA AMBIENTAL E A CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL
1. Origem das unidades
de conservação
No final do século
XVIII, essa concepção baseada no racionalismo
progressista foi aos poucos cedendo lugar
a novas maneiras
de encarar a relação
entre os homens
e o mundo natural .
Credita-se ao filosofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), o desenvolvimento romântico. Rousseau afirmava que os homens não haviam sido feitos
para viver amontoados em cidades , pois quanto mais se aproximavam uns dos outros
mais se corrompiam. Acredita-se que essa visão
romântica da natureza influenciou, de
alguma maneira , nos
projetos de delimitação das primeiras áreas naturais
protegidas (MAGNOLI & ARAUJO, 2000). Nessas áreas ,
os homens poderiam usufruir
mais da aproximação
da natureza intocada, podendo assim encontrar alívio para os males psicológicos
da vida urbana .
Figura 1: Rousseau afirmava que os homens não haviam sido do feitos para viver amont oados em cidades , pois quanto mais se aproximavam uns dos outros mais se corrompiam. Fonte: opndeporica.blogspot.com.
A autoria da idéia
de áreas protegidas ainda
é desconhecida , no entanto
há registros de áreas
protegidas entre as civilizações
do oriente e ocidente .
No Peru , na antiga
civilização Inca, já
se estabeleciam limites físicos e períodos
sazonais para
caça com
intuito de preservação .
“A Índia estabeleceu áreas protegidas há mais
de um século ”
(WEST, 1992, apud
MORSELLO, 2001, p.23). Na Europa Medieval a palavra “parque ”
designava um determinado
local delimitado nos
quais animais
viviam na natureza , em
ares sob
responsabilidade do rei
(MORSELLO, 2001, p.22). Os intrusos que se aventuravam entrar, especialmente caçador, eram
condenados à morte (RUNTE, 1979 apud
MORSELLO, 2001, p.22).
No século
XIX é que emergem os conceitos de área natural
protegida e de unidades de conservação . O primeiro conceito , o
de área natural
protegida, coube a Europa. Após milênios de colonização humana ,
pouco havia restado dos ambientes originais
na paisagem modificada. Daí, a iniciativa de preservar
os as áreas que
apresentavam importantes atributos de beleza cênica . Mas nem por isso a primeira
área de proteção
natural oficial
surgiu na Europa e, sim nos Estados
Unidos da América do Norte . Neste país a dinâmica
de apropriação e valorização do território
ainda estava em
curso .
É então ,
a partir da criação
do Parque Nacional
de Yellowstone (1872), que surge o conceito moderno
de Unidade de Conservação
(UC). Este
teve como objetivo
a preservação de atributos
cênicos , a significação histórica e o potencial
para atividades
de lazer . A partir
dessa iniciativa pioneira ,
iniciou-se uma racionalização no processo de
colonização do oeste americano ,
que abriu caminhos ,
inclusive , para a criação de outras UCs. Esse
parque localizado no Estado do Wyoming, é pioneiro ,
é hoje o maior
e mais antigo
parque do país ,
possui uma área de 8.983 km 2. Conhecidos
pelos mais
de 3.000 gêiseres e fontes
termais , recebe hoje
cerca de 3,6 milhões
de visitantes ao ano .
Figura 2: O Yellowstone National Park recebe cerca de 3,6 milhões de visitantes ao ano, quase supera toda industria d turismo do Brasil que hoje recebe parcos 4,5 milhões d turistas. Fonte: Wikipédia.com.
1.2. A
1.2.
Política das UCs nas Américas
Os Estados
Unidos é o país da América com maior número de UCs (1495), todas com
área superior
a mil hectares .
Por conta
dessas cifras possui o maior
percentual mundial em
áreas protegidas. Foi durante o governo de Theodoro Roosevelt (1901-1909) que a política
de parques nacionais se consolidou. Desde
a criação do Parque
Nacional de Yellowstone, até 1994, mais
de 8.500 áreas protegidas foram
estabelecidas no mundo . Segundo a World Conservation Union (UCN), o número de áreas
protegidas vem crescendo cada vez mais , e chegou a atingir em 1988
a quantidade de 9.869,
perfazendo um total
de 931.787.396 hectares , ou
seja, cerca de 6,29% da superfície da superfície
terrestre (MORSELLO, 2001, p.4 )
Na América do Sul
as primeiras áreas protegidas foram
criadas por iniciativa
de número reduzido de pessoas dedicadas à conservação .
Na Argentina, por exemplo ,
a iniciativa coube a Francisco Moreno . Na Venezuela credita-se a Henry Pitter essa iniciativa . Este ,
fugindo dos argumentos tradicionais que quase sempre valorizavam os aspectos
da beleza cênica
natural , inovou justificando a necessidade da criação
de parques para
preservar as florestas .
Essa posição levou a criação de parques
para o âmbito
ambiental (MORSELLO, 2001, p.24).
Parque Nacional Henri Pittier é o parque nacional mais antigo de Venezuela criado originalmente em 1937 coo o nome de Rancho Grande por decreto do Presidente Eleazar López Contreras, mais tarde foi rebatizado em 1953 com o nome de Henri Pittier, e geógrafo, botánico e etnólogo suiçoo, que chegou a Venezuela em 1917
1.3.
Política de parque
no Brasil
No Brasil o estabelecimento
de unidades de conservação
se deu ao longo de um
grande período
histórico , iniciando no século XIX e se estendendo até
os dias atuais .
Por isso ,
os critérios que
justificavam sua criação
também sofreram variações. Inicialmente os objetivos
que nortearam a criação
dos primeiros parques
nacionais encontravam-se relacionados
aos aspectos cênicos ,
uma influência clara
do modelo americano . Com isso , buscaram-se
como critérios
de seleção , a escolha
de paisagens de grande
beleza natural ,
como por
exemplo , formações
rochosas, canyons e cascatas (RUNTE, 1979; apud MORSELLO, 2001).
Os parques norte-americanos
e brasileiros foram marcados por semelhanças
e diferenças . As semelhanças ,
por exemplo ,
se dão no que diz respeito
às motivações iniciais de suas criações , em geral
baseadas em aspectos
cênicos . Porém ,
havia diferenças no tipo
de localização geográfica
e na política de manejo .
Enquanto nos
Estados Unidos os primeiros
parques foram criados
em lugares
remotos , no Brasil os primeiros Parques
Nacionais equivalentes eram localizados
nas áreas urbanizadas próximas das capitais (DRUMMOND, 1988, apud MORSELLO, 2001,
p.153). Quanto ao manejo
havia drásticas diferenças : os parques norte-americanos ,
por exemplo ,
não permitiam a presença
do homem . No Brasil, ao contrário , a presença humana é permitida e condicionada às ações de manejo
sustentável .
A política de conservação da natureza no Brasil é antiga ,
e há registros de que
tenha entrado na agenda brasileira
já durante
sua fase política imperial. A devastação
do patrimônio ambiental esteve no centro das preocupações
de José Bonifácio de Andrada e Silva (MAGNOLI & ARAÚJO, 2000, p.258), que alertava quanto
às conseqüências da exploração
predatória das florestas
do país . Mas
é só no inicio do século
XX, a partir de 1930, que
realmente se inicia uma enorme produção legislativa pela
criação de um
conjunto de instituições vinculadas à gestão dos recursos naturais
(DEAN, 1996; DRUMMOND, 1988). Coube a Getulio Vargas, já
na segunda metade
da década de 30, a organização
da proteção ao patrimônio
histórico e artístico
nacional , e a criação
dos três primeiros
Parques Nacionais
brasileiros : Itatiaia (1937)(Figura 2), Iguaçu e Serras dos Órgãos
(1939) – todos nas regiões
Sudeste e Sul.
Figura 5: parque nacional de Itatiaia é uma unidade de conservação brasileira de proteção integral da natureza localizada no Maciço do Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Fonte: flickr.com
A
1.4. A década
de 60: a marcha para
o oeste e a criação
de parques no cerrado
Passaram-se
20 anos até
que outros
parques fossem criados
(SANTOS, 2003, p.150). A retomada da criação de parques
no Brasil se inicia no governo do presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), que governou o Brasil de 1956 a 1961. Nesse período de governo
foram criados 13 Parques
Nacionais , cinco
dos quais no Centro-Oeste :
Araguaia, Emas , Tocantins, Brasília e
Xingu.
Barreto Filho
(2005) assevera que a criação desses parques da década de 60 acompanhou o
deslocamento programado da sociedade nacional em direção ao interior do País.
”Tanto é assim que o primeiro Parque Nacional do Araguaia, só veio a ocorrer em
1959 – um ano antes da criação da nova capital da República”. A construção de Brasília foi marco
do movimento geopolítico
de interiorização e de deslocamento
programado e planejado do ecúmeno nacional para o interior do país .
Em parte ,
isso explica porque
boa parte da UCs criadas na virada da década
de 50 para a de 60 tenha se concentrado
na região Centro-Oeste .
Figura 6: O Parque partiu de uma iniciativa presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, na época, ao motivarar um plano de ocupação da região Centro-Oeste, criou a reserva ambiental na Ilha do Bananal, onde viviam as tribos carajás e javaés, mais tarde no ano 1983 a reserva foi transformada em Parque Nacional do Araguaia.
Nesseperíodo foram também criados os seguintes
parques : em
1959 os parques nacionais :
Ubajara (CE), Aparados da Serra (RS/SC)
e Araguaia (GO). Em 1961, mais dez Parques Nacionais :
os das Emas e do Tocantins, ambos em Goiás,
os Parques Nacionais
de Sete Quedas
(PR), do Xingu (MT), do Caparaó (MG/ES), de Sete
Cidades (PI ),
de São Joaquim (SC) e do Rio
de Janeiro – hoje ,
da Tijuca (SANTOS, 2003).
Nesse
Jânio Quadros também
deu um grande
impulso na política
de parques. No curto período
de seu governo ,
foram criados o Parque
Nacional de Brasília (DF) e do Monte Pascoal
(BA), ambos durante
o regime parlamentarista .
Somando-se a estes , foram criados mais nove Reservas
Florestais, isso em
apenas um
dia (25 de julho
de 1961). Ocorreu aí um verdadeiro
“boom ” de criação de UCs de Proteção
Integral . Esse
período é considerado o mais
fértil em
criação de parques
no Brasil (MORSELLO, 2001). É a partir dessa nova fase , que pouco a pouco se deixa
de ter como
o alvo primário
da criação de áreas
protegidas baseadas em aspectos cênicos ,
passando ser objetivo
principal , a noção
de conservação da natureza
(MORSELLO, 2001, p.154).
Figura 7: Parque Nacional de Brasilia mais conhecido pelo apelido de "Água Mineral", é uma unidade de conservação brasileira de proteção integral à natureza localizada a noroeste do Distrito Federal e na região central do estado de Goiás. Fonte: icmbio.gov.
Aomesmo tempo
ocorrem mudanças na localização geográfica . Pela
primeira vez
passam a ser criadas UCs no interior
e em locais
remotos do país .
Essa situação só
voltaria a acontecer na década
70 para a de 80. Desta vez ,
na Amazônia, confirmando a tendência da criação dos Parques
e Reservas acompanhando o deslocamento migratório nacional
em direção a matriz econômica
(MORSELLO, 2001, p.154).
Ao
1.5. A década de
70: a expansão de fronteiras
econômicas e criação de UCs na Amazônia
Figura 8: O Parque Nacional do Amazônia foi criado em 1974 com 994 mil hectares localizado em Itaituba (PA). Fonte:noaamazonaseassim.com
Destaca-seainda a criação
do Regulamento dos Parques
Nacionais do Brasil; a lei de Política
Nacional do Meio
Ambiente (Lei
nº 6.938 de 31/08/81) – que instituiu o Sistema Nacional
do Meio Ambiente
e o Conselho Nacional
de Meio Ambiente
– CONAMA, além do Regulamento
de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção
Ambiental. Esse período
de criação de UCs na Amazônia coincide
contraditoriamente com o lançamento do Programa
de Integração Nacional
(PIN), lançado durante o governo militar . Esse programa sob a estratégia
do “alargamento das fronteiras
econômicas internas do país ” (COSTA , 1989, p.68), definiu uma série
de medidas agressivas em relação ao meio ambiente
da Amazônia. A construção da Rodovia
Transamazônica transformou-se em símbolo desse programa
(COSTA , 1989, p.68).
Destaca-se
A explicação da aparente
contradição citada por
Wetterberg (1985 apud Barreto Filho, 2005),
ou seja, “a década de progresso para os parques sul-americanos ”
e a “década da destruição ” na história
da floresta tropical
úmida da Amazônia (WWF/CIT, 1991), e de que segundo
Barreto Filho (2005, p.61).) “a conservação da natureza
na Amazônia na forma de proteção
integral , avançou quando
as circunstâncias políticas
eram favoráveis e quando
um conjunto
de princípios consistentes pretensamente científicos
e taticamente selecionados coadunaram a política de conjugação
com valores
dominantes da administração
tecnocrata do regime
militar ”.
1.6. Os anos 80 e
90: a consolidação da política
de parques e turismo
Os anos foram fundamentais
para a consolidação da política de parques
no Brasil. Nessa mesma década o presidente
João Figueiredo sancionou a Lei nº
6.938, de 31 de agosto , que dispõe sobre
a política nacional
de meio ambiente ,
seus fins
e mecanismo de formulação
e aplicação , vindo a constituir
um dos mais
importantes instrumentos
de amadurecimento e consolidação da política ambiental do país .
Figura 9: O Monte Roraima com altitude de 2.810 m. é uma montanha localizada na América do Sul, na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Constitui um tepui, um tipo de monte em formato de mesa bastante característico do Planalto das Guianas. Fonte: Imagensincriveis.blogspot
Atualmente
o Brasil conta com 52 parques nacionais localizados em diversos biomas, chegando
ao século XXI com uma quantidade significativa e diversificada deles que se
estendem desde os sulinos, como é o caso do Parque do Iguaçu de clima
subtropical, até mesmo os localizados a oeste do país, a exemplo do Parque do
Araguaia no Estado do Tocantins.
Na diagonal
Nordeste e Centro-Oeste existem dezenove parques,
visam proteger dois importantes biomas, o Cerrado e a caatinga. O Centro-Oeste totaliza
seis parques , sendo cinco sob o domínio do Cerrado , os parques : Nacional
de Brasília (GO), Chapada dos Guimarães
(MT), Chapada dos Veadeiros (GO), Emas (GO), Serra
da Bodoquena (MS), e o Pantanal Mato-Grossense no Complexo
do Pantanal .
O Nordeste , por sua
vez , possui dez
parques , as maiorias
sob o domínio
da Caatinga , são
eles : Parque
do Catimbau (PE), Serra da Capivara (PI ), Serra das Confusões
(PI ), Sete
Cidades (PI )
e o do Ubajara (CE); na mata Atlântica :
Monte Pascoal
(BA), Pau-Brasil (BA), e o do
Descobrimento (BA); na Vegetação Litorânea :
Jericoacoara (CE), Lençóis Maranhenses
(MA) e o do Pantanal Mato-Grossense (MT); e, finalmente
os marinhos : Marinhos
de Abrolhos (BA) e o Marinho de Fernando Noronha
(PE).
Figura 11. Fernando de Noronha é um arquipélago pertencente ao estado brasileiro de Pernambuco, formado por 21 ilhas e ilhotas, ocupando uma área de 26 km², situado no Oceano Atlântico, a leste do estado do Rio Grande do Norte.
Os
A Região Sul é a que
totaliza menos parques ,
possuindo apenas oito . A maioria desses foi criada
com intuito
ambiental de preservar os remanescentes
de florestas de mata
Atlântica . Nesse bioma
existem: o Parque Nacional
dos Aparados da Serra (RS) Saint
Hilaire/Lang (PR), Serra Geral (RS), Superagui (PR), Lagoa
do Peixe (RS), Iguaçu (PR) e o da Ilha Grande (PR); e finalmente o único
sob o domínio
das Araucárias , o de São Joaquim (RS).
2. Parque nacional e representação
espacial
A importância do país
no contexto mundial da diversidade biológica não
reflete, entretanto na superfície protegida em
UCs. Embora não existam estimativas
exatas do somatório das áreas protegidas federais ,
o IBGE (2005) afirma que as áreas naturais
protegidas representam cerca de 6,2% do território nacional .
Entretanto , segundo
o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), órgão do Ministério do Meio
ambiente , esse
percentual é um
pouco maior
podendo chegar a 8,13% território .
Por outro lado, esse valor de
8,13% referentes às UCs é discutível e
considerado superestimado por muitos pesquisadores
autônomos, que são
céticos quanto
a esses números .
Os mais radicais
afirmam que pesquisas
demonstraram que dificilmente as UCs
representariam mais de 2,61% do território . Dentre
eles , destaca-se o biólogo
Felipe Ponce de Leon (1977), que após levantar dados sobre as reais dimensões
e distribuição geográfica
das UCs no Brasil, cuja seriedade do trabalho foi
reconhecido pelo IBAMA, publicou no Jornal da Tarde ,
de 19 de outubro de 1997, que o número
das unidades de Conservação
do Brasil contabiliza apenas 2,46% de
área protegida. O IBAMA (2005), por sua vez, afirma que
o percentual é um pouco maior, dispondo de 258 UCs, das quais
52 (20,54%) são classificadas na categoria parque ,
correspondendo a 23.761.582,21
ha , ou 2,78% do território nacional .
2.1. A evolução da legislação de parques no Brasil
Como observado, embora a criação do primeiro parque no Brasil tenha
ocorrido ainda na década de 30 (SANTOS, 2003), o mais importante ato jurídico
rumo consolidação da política de parque se daria mesmo através da criação do
Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA) através
da Lei 7.735, de 22/02/1989. Ao IBAMA competeria executar a política nacional
do meio ambiente ,
atuando para conservar , fiscalizar , controlar e fomentar o uso racional dos recursos
naturais.
Em 2000 é que os parques receberiam uma legislação própria. Através da
Lei 9.985/00 é criando o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza – SNUC, com objetivo de estabelecer critérios e normas para a criação,
implantação e gestão de unidades de conservação. O SNUC dispõe hoje de um
quadro de Unidades de Conservação extenso. As linhas gerais de política de
criação, valorização, e utilização das Unidades de Conservação são traçadas
pelo Conselho Nacional de Unidade de Conservação (CNUC), coordenado pelo IBAMA,
que é o principal órgão executor da política ambiental brasileira ao nível
federal.
As Unidades de Conservação federais no país dividem-se em várias categorias de manejo: as Unidades de Conservação de uso indireto e Unidades de Conservação de uso direto. As primeiras são aquelas onde estão totalmente restringidas a exploração ou aproveitamento dos recursos naturais, admitindo-se apenas o aproveitamento indireto dos seus benefícios. São identificadas como unidades de proteção integral. Incluem Parques Nacionais (PARNAs), Reservas Biológicas (REBIOs), Reservas Ecológicas (RESECs), Estações Ecológicas (ESECs) e as Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIEs). Unidades de Conservação de uso direto são aquelas nas quais a exploração e o aproveitamento direto são permitidos, mas de forma planejada e regulamentada. São identificadas como unidades de utilização sustentável, que incluem as APAs, as FLONAs e as Reservas Extrativistas (RESEXs) (IBAMA, 2004).
Atualmente as unidades de conservação federais administradas
pelo IBAMA somam aproximadamente 45 milhões de hectares, sendo 256 unidades de
conservação de uso direto e indireto: 29 Áreas Federais de Proteção Ambiental –
APAs; 34 Reservas Extrativistas – RESEX; 26 Reservas Biológicas; 30 Estações
Ecológicas; 64 Florestas Nacionais – FLONA; 19 Áreas de Relevante Interesse
Ecológico – ARIE; 53 Parques Nacionais;
364 Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPNs; 01Refúgio da Vida
Silvestre (IBAMA, 2004).
2.2 Limites, forma e dimensão das
Unidades de Conservação à luz da Teoria do Equilíbrio em Biogeografia de Ilhas
- TEBI
Uma das formas de minimizar o processo de fragmentação e, o
conseqüente efeito borda provocado por estradas e outras ações antrópicas, se dá
nos cuidados que se deve ter na seleção dos critérios para estabelecer o
perímetro, a forma, a dimensão e os limites de uma Unidade de Conservação.
Esses elementos possuem relação direta com o número de espécies que se quer
resguardar, o que torna necessário a aplicação de teorias que embasem o
funcionamento e limite dos ecossistemas para estabelecer as áreas protegidas,
melhorando desse modo a performance no sentido biogeográfico dos recortes de
biomas que se pretende resguardar, daí a necessidade do uso do paradigma
vigente, a TEBI..
Bousquets & Morrone (2001), afirmam que estudos buscando
estabelecer a relação entre área e quantidade de espécies não é recente. Há
registros desse tipo de pesquisa há mais de 165 anos. É o caso de Watson (1835)
e Candolle (1855), no século XX, tem-se Grinnell & Stwarth (1913), que
estudaram a relação existente entre número de espécies em montanhas. Arrthenius
(1921; 1922) e Gleason (1922; 1925) estudaram a relação área quantidade de
plantas (BOUSQUETS & MORRONE, 2001).
Foi o pensamento desenvolvido no século XX nessa área de
estudo que deu pós-ênfase a uma série de conceitos ecológicos evolutivos em
biogeografia (BOUSQUETS & MORRONE, 2001, p.95). Segundo o mesmo autor, os
parques e reservas de vida silvestre criados até 1971, não contaram com um
desenho prévio de delimitação. Só a partir da década de 70 é que se utilizaram
os princípios da Teoria do Equilíbrio de Biogeografia Insular.
Segundo Gilbert (1980) apud
Bousquets & Morrone ( 2001), coube a MacArthur & Wilson (1963) entender
a proposta de Preston (1662). Ambos os pesquisadores chegaram, de forma
independente, a conclusões semelhantes sobre a dinâmica de espécies em
ambientes insulares. Assim, a partir de 1967, essa teoria foi sendo amplamente
adotada por ecólogos e bioconservacionistas de variadas extirpes, gerando uma
revolução no pensamento cientifico da época e, motivando uma série de
investigações que poderiam ser aplicadas a uma grande variedade de fragmentos.
Essateoria e tinha como discussão sistemática
a relação que
se estabeleciam entre espécies e área ,
tendo as ilhas como
ambientes de estudo .
Três princípios
que norteiam a teoria :
a) área e número de espécies .
Quanto maior
a área , maior
seria o número de espécies presentes ; b) o efeito
isolamento . A redução do número de espécies teria relação
com o grau
de isolamento das ilhas ;
c) troca de espécies .
Quando uma ilha
é colonizada por novas
espécies , estas parecem substituir
as existentes anteriormente (SHAFER,
1990, apud ,
MORSELLO, 2001, p. 58).
Mais tarde essa teoria passou a ser a base dos primeiros critérios científicos organizados, para o uso de seleção de áreas protegidas. Coube a Diamond (1975) apud Morsello (2001) ser o pioneiro a propor que um sistema de reservas alterado assemelhava-se a um sistema insular do ponto de vista das espécies. Assim, as reservas protegidas eram vistas como uma metáfora das ilhas oceânicas utilizadas originalmente por MacArtur & Wilson, em1967. Pelo proposto, procuram-se comparar as extinções que as reservas sofreriam após a sua insularização, ou seja, uma analogia do modelo inicial relacionado às ilhas oceânicas.
Essa
Mais tarde essa teoria passou a ser a base dos primeiros critérios científicos organizados, para o uso de seleção de áreas protegidas. Coube a Diamond (1975) apud Morsello (2001) ser o pioneiro a propor que um sistema de reservas alterado assemelhava-se a um sistema insular do ponto de vista das espécies. Assim, as reservas protegidas eram vistas como uma metáfora das ilhas oceânicas utilizadas originalmente por MacArtur & Wilson, em1967. Pelo proposto, procuram-se comparar as extinções que as reservas sofreriam após a sua insularização, ou seja, uma analogia do modelo inicial relacionado às ilhas oceânicas.
Diamond (1975), ao se utilizar
dessa analogia , buscou incorporar
da teoria de MacArtur & Wilson, elementos referentes
ao tamanho , distância
e equilíbrio , fazendo-os como princípios
básicos na seleção
de áreas protegidas
(MORSELLO,2001,p.72). Dessa forma, ao transpor os princípios
da TEBI para o uso
na delimitação de áreas protegidas
chegaram as seguintes conclusões : a) as reservas
devem ser grandes ,
pois , quanto maiores , poderão conter maior número de
espécies , além
de possuírem maiores taxas de extinção ;
b) as reservas não
devem ser subdivididas em
partes , mesmo
que apenas
por estradas ,
pois estas podem se constituir
em barreiras ;
c) se a área disponível
necessitar ser
subdividida, então as partes devem estar
distribuídas de forma eqüidistantes ;
d) reservas separadas podem ser conectadas por corredores ; e) deve ser dada preferência ao formado
circular .
Os estudos buscando estabelecer o princípio
da TEBI aplicado ao continente não couberam somente a
Diamond (1975) apud (Morselllo
(2001). Segundo Bousquets & Morrone
(2001), há muitos outros
estudos , como
por exemplo :
Voilleumier (1970); Brow (1971); Lynch & Whitcomb (1974); Helliwell (1976);
Browun (1978); Davis & Glick (1978); Picton, (1979); Leverson (1981);
Diamon (1984); Lewn (1984); Opdam et. al.(1984); Simberloff (1985); Wilcox et al.(1986); Lomolino et al.(1989); Bolgen et. al.(1991);
Bierregard et.al. (1992); Brouwn et al.(1995)
; Nores,1995; Calme & Desrochers (2000); e incluindo reservas
urbanas elaborados por Adam & Dove (
1997) apud (BOUSQUETS& MORRONE,
2001, p.95).
A TEBI (Theory Of Island Biogeography) recebeu várias críticas antes
de se tornarem referência básica nos processo de seleção
de áreas protegidas, iniciada em meados dos anos 70, atingindo diretamente
seus princípios
básicos teóricos .
Simberloffe & Abele (1976); Brown & Kodrick Brow (1977); Williamnson
(1981); e Shafer (1990) apud Morsello
(2001), entre outros ,
discordavam e afirmavam que as
variações quantitativas de espécies não
tinham relação somente com o tamanho das áreas, mas
também com
o tipo de habitat ,
condições climáticas, solo , etc. Mas ,
segundo Morsello (2001), pelo
fato de que
as maiores ilhas
continham um maior
número de espécies , essa relação continuou sendo usada.
Uma outra critica a TEBI, referia-se ao processo imigração-extinção.
Neste aspecto MacArthur
& Wilson (1967), afirmavam que a taxa de imigração era determinada
pelo grau de isolamento. Assim, quanto maior e isolada a ilha menor o número de
espécies que consegue alcançá-la. Esse ponto de vista permaneceu sendo
apenas uma hipótese que nunca foi comprovada satisfatoriamente. Essa crítica
foi defendida por Simberloff & Abele (1976); Brown & Kodrick Brow
(1977); Williamnson (1981) e Shafer (1990) apud
(MORSELLO, 2001).
Uma terceira critica sugere que o modelo teórico era
impraticável. Argumentava que a comprovação da TEBI requer, para sua
demonstração, a necessidade de que sejam encontradas duas áreas de igual número
de réplicas e, que apresentem as mesmas condições ambientais atuantes e
historicamente homogêneas. Portanto, uma situação quase impossível (PIELOU,
1979 apud MORSELLO, 2001, p.75).
Por fim, havia ainda uma crítica que questionava a
viabilidade da aplicação prática da teoria. Essas admoestações foram defendidas
por Kushlan (1979); Marques et al.
(1982); Doak & Mills (1994); entre outros, apud (MORSELLO, 2001). Kushlan (1979), por exemplo, chegou a
afirmar que as reservas que se pretendiam proteger não poderiam ser comparadas
a ilhas isoladas. Mesmo assim, a TEBI continuou a ser nos anos 90 o modelo
recomendado para o processo de reservas nacionais.
2.3 Forma e tamanho
Entretanto, esse ponto de vista é apenas teórico, e a uma reserva não basta ser apenas grande, é necessária
qualidade dos ambientes
e espécies conservadas (MORSELLO, 2001).
Embora haja exceção ,
o principio de que quanto maior área, maior o número de espécies
ainda continua fortalecido . Um outro
principio a favor de reserva
grande é a possível
redução do efeito borda .
Assim , um
reserva significativamente
grande tenderia a ser
mais úmida
no seu interior .
Mas a questão do tamanho não está suficientemente resolvida.
Uma vez que a noção de grande e pequena é relativa e, tem significado apenas no
âmbito das ciências exatas, sendo de difícil aplicação para determinar áreas
abrangidas pelo comportamento de espécies da flora ou da fauna, o que pode ser
grande para uma espécie pode ser demasiadamente pequeno para outras, que têm
comportamento de deslocamento em busca de alimentos, abrigo e água
diferenciados.
No que diz respeito ao perímetro ,
a primeira sugestão
de um formato
ideal a ser dado às reservas
foi feita por
Diamond (1975) apud Morselllo (2001),
que baseado num fenômeno
denominado de “efeito de península ”, que
se traduz na redução de número de espécies sempre que se aproximar
de sua extremidade .
Como forma de
evitar esse
efeito, o autor propôs que áreas protegidas deveriam ser
preferencialmente circulares, presumindo
que esse
formato era
mais eficiente
na redução das distâncias internas e,
redução do efeito borda.
Outro ponto positivo
é que a redução do perímetro
oferecido pelo formato
circular é uma vantagem
econômica . Haveria uma redução com custos de
monitoramento e gatos como pessoal de
vigilância , cercas ,
entre outras vantagens .
Entretanto , essas afirmações positivas em favor de um formato circular para criação de unidades
de conservação são apenas
teóricas, até porque
“ninguém até
hoje conseguiu provar
que reservas
circulares contêm maior
número de espécies que
as alongadas” (SHAFER, 1990, apud MORSELLO, 2001, p.92). Em virtude
disso, se crê que isoladamente o fator formato
dificilmente seja considerado importante
na seleção de uma reserva ,
principalmente grande
(MORSELLO, 2001, p.92). Willis (1984 apud MORSELLO, 2001) afirma que o aumento de perímetro exigido por
outras formas geométricas e, suas aplicações
nos parques implicariam em gastos com atividades
de patrulhamento de reservas e
cercamentos.
2.4. Zona de amortecimento (ZA)
A ZA pode ser definida como a porção adjacente à área
protegida, na qual o uso da terra é parcialmente restringido. Mas, a finalidade
da ZA, ou “Buffer Zone” como alguns denominam, tem intento de criar uma
proteção ao entorno das unidades de conservação. Prevendo evitar conflitos com
a expansão urbana e proprietários, o artigo 25 da Constituição Federal
estabelece uma regra de limitação administrativa ao direito de propriedade que
se encontram no entorno da unidade de modo garantir a proteção a essa área de
proteção (SANTOS, 2003, p.94).
A ZA atende as seguintes funções: primeiramente pode
possibilitar a ampliação da presença na área protegida de certo tipo de
habitat, permitindo, por exemplo, a manutenção de populações maiores que
aquelas possíveis dentro do parque. Pode, ainda, servir a propósitos econômicos
para a comunidade residente com incentivo a atividades que gerem recurso de
subsistência ou monetário a população local, e que, preferencialmente, não
interfira nos objetivos do parque (MARCHINNO et al. 1986, apud.
MORSELLO, 2001, P.210).
A definição do objetivo da ZA visa restringir o uso de
determinadas ações que gerem impactos ambientais. Quando a área de limite,
segundo a Resolução 13/90 de 06/12/1990 do Conselho Nacional do Meio Ambiente,
define: “qualquer atividade num raio de
dez quilômetros, das áreas protegidas deve ter obrigatoriamente permissão do
órgão ambiental competente e somente será concedida mediante autorização do
órgão responsável pela administração da área” (IBAMA, 1997apud SANTOS, 2003).
Entretanto, Santos (2003) adverte que uma vez definida uma
área como ZA, está não poderá mais ser transformada em zona urbana. No entanto,
existe a possibilidade de que o município, com intuito de garantir a expansão
imobiliária, declara toda extensão como zona urbana, ou de expansão urbana,
protegendo-se contra essa legislação ambiental, como é o caso da Vila do
Catimbau..
Assim, a conservação da zona de amortecimento, nesse sentido,
torna-se fundamental para preservação e proteção da diversidade biológica de um
parque, “uma vez que se forem degradadas, a diversidade biológica dentro do
parque diminuirá (PRIMACK & RODRIGUES, 2005, p.244)”. Por isso, a
conservação da biodiversidade não deve ser restrita apenas às áreas do parque,
uma vez que essa a proteção circunscrita a esses limites tende a criar um ‘estado
de sitio’(PRIMACK & RODRIGUES,
2005, p.244), onde as espécies e comunidades dentro dos parques são
rigorosamente protegidas, enquanto aquelas que estão fora podem ser livremente
exploradas.
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As referencia bibliográfica desse artigo pode ser obtido na tese de mestrado UFPE:
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As referencia bibliográfica desse artigo pode ser obtido na tese de mestrado UFPE:
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